Primeiro Pecado: Elitismo
Elitismo é a crítica mais comum que, nos últimos doze anos, tem sido feita à política cultural do PSDB. Comumente, se compreende elitismo como uma cultura dita “de elite”, acusando-a de dialogar, quase exclusivamente, com produções culturais eruditas. Na verdade, porém, o verdadeiro elitismo é uma ação voltada para grupos privilegiados da sociedade e desenvolvida por meio de estratégias autoritárias. Ou seja, o elitismo não está, primordialmente, no objeto cultural, seja ele “erudito” ou não, mesmo porque os objetos culturais “eruditos” são legítimos e importantes para o desenvolvimento social. Ele está, na verdade, na forma fechada da política cultural, na sua intransigência em dialogar com agentes culturais que se distanciam dos padrões “eruditos”, na arrogância presente na sua visão de mundo e na sua tenacidade em privilegiar os agentes que identifica como seus pares no processo cultural.
A política cultural do PSDB foi direcionada a uma minoria branca, machista e logocêntrica. Aparentemente, valorizou-se uma certa percepção de “erudição” como uma estratégia de exclusão social. O gosto, é preciso lembrar, é também um agente da exclusão social. Evocar um pretenso “bom gosto” como norma equivale a marginalizar os agentes sociais que não fazem uso desse “bom gosto” na sua vida cotidiana.
A coisa, porém, fica realmente grave quando o pretexto do “bom gosto” produz um poder autoritário e quando esse poder autoritário, para legitimar-se, estabelece uma relação de clientelismo com agentes culturais que, não fazendo uso do “bom gosto”, acabam compondo com ele, valorizando-o. Para legitimar-se, a política cultural do PSDB estabeleceu uma importante rede de clientelismo.
Artista clientelista é uma conseqüência concreta da sociedade centrada na economia de mercado e, portanto, é um fenômeno perceptível até mesmo nos países mais desenvolvidos. Não é absolutamente o caso de fazer um julgamento moral dos artistas envolvidos por esse sistema, cabendo apenas observar que o clientelismo é uma condição perversa da cultura elitista e de mercado. Porém, é importante lembrar que o verdadeiro papel do artista não é afirmar o Estado. O papel social do artista só é eficaz quando ele embaralha as cartas do jogo. Ademais, há maneiras de apoiar a cultura – e de apoiar o artista – sem estabelecer com ele uma relação de débito, sem reduzi-lo à condição de um instrumento do poder público ou de sua ideologia.
Desse modo, pode-se dizer, a principal expressão do elitismo na política cultural do PSDB é a sua estratégia de cooptação do campo cultural, a instrumentalização do saber e do sensível pelo dinheiro, a compra disfarçada do gosto.
Elitismo é a crítica mais comum que, nos últimos doze anos, tem sido feita à política cultural do PSDB. Comumente, se compreende elitismo como uma cultura dita “de elite”, acusando-a de dialogar, quase exclusivamente, com produções culturais eruditas. Na verdade, porém, o verdadeiro elitismo é uma ação voltada para grupos privilegiados da sociedade e desenvolvida por meio de estratégias autoritárias. Ou seja, o elitismo não está, primordialmente, no objeto cultural, seja ele “erudito” ou não, mesmo porque os objetos culturais “eruditos” são legítimos e importantes para o desenvolvimento social. Ele está, na verdade, na forma fechada da política cultural, na sua intransigência em dialogar com agentes culturais que se distanciam dos padrões “eruditos”, na arrogância presente na sua visão de mundo e na sua tenacidade em privilegiar os agentes que identifica como seus pares no processo cultural.
A política cultural do PSDB foi direcionada a uma minoria branca, machista e logocêntrica. Aparentemente, valorizou-se uma certa percepção de “erudição” como uma estratégia de exclusão social. O gosto, é preciso lembrar, é também um agente da exclusão social. Evocar um pretenso “bom gosto” como norma equivale a marginalizar os agentes sociais que não fazem uso desse “bom gosto” na sua vida cotidiana.
A coisa, porém, fica realmente grave quando o pretexto do “bom gosto” produz um poder autoritário e quando esse poder autoritário, para legitimar-se, estabelece uma relação de clientelismo com agentes culturais que, não fazendo uso do “bom gosto”, acabam compondo com ele, valorizando-o. Para legitimar-se, a política cultural do PSDB estabeleceu uma importante rede de clientelismo.
Artista clientelista é uma conseqüência concreta da sociedade centrada na economia de mercado e, portanto, é um fenômeno perceptível até mesmo nos países mais desenvolvidos. Não é absolutamente o caso de fazer um julgamento moral dos artistas envolvidos por esse sistema, cabendo apenas observar que o clientelismo é uma condição perversa da cultura elitista e de mercado. Porém, é importante lembrar que o verdadeiro papel do artista não é afirmar o Estado. O papel social do artista só é eficaz quando ele embaralha as cartas do jogo. Ademais, há maneiras de apoiar a cultura – e de apoiar o artista – sem estabelecer com ele uma relação de débito, sem reduzi-lo à condição de um instrumento do poder público ou de sua ideologia.
Desse modo, pode-se dizer, a principal expressão do elitismo na política cultural do PSDB é a sua estratégia de cooptação do campo cultural, a instrumentalização do saber e do sensível pelo dinheiro, a compra disfarçada do gosto.
Comentários
Estou sem palavras para comentar seu texto. Mais do que reflexões sobre ações culturais do governo do PSDB no Estado durante esta última década, você balizou perfeitamente este debate que ebuliu especialmnete nas épocas das eleições, um fato inédito na nossa história.
O que aconteceu aos nossos artistas foi tão grave que não vejo como reparar. Uma obra esquecida e maltratada por um longo tempo pode sofrer reparos e ficar quase tão boa quanto a concepção genuina dela. O homem não possui este privilégio...
É sábia a maneira como você esclarece este massacre cultural que assistimos, promovido pelo PSDB.
A arte não está na frente da saúde, educação, segurança pública. Talvez caminhe ao lado. Nunca atrás. O que sofremos - falo como cidadã e artista que um dia fui - não há como reparar, repito.
O pecado do elitismo foi um dos que mais me afetaram. A política velada do "querer mostrar", "querer aproximar" o povo do erudito, sem antes proporcionar a este povo o contato básico com as artes importadas, equivale à apresentação de um Pássaro Junino num teatro europeu, sem um "release" ou algo do gênero.
Obrigada por estar atento a esta discussão. Muitíssimo obrigada por nos dar agora este retorno que muito nos enriquece. Espereo que este novo governo tenha este "olhar" para os nossos artistas, para o nosso povo, para o nosso Pará.
Luciane.
Ps: gostaria de postar no meu blog, se você permitir, todos os "pecados".
No mais, também sou professor, mas de Direito Penal. Outro dia, elaborando uma palestra sobre teorias da sociologia jurídica, descobri que a teoria do labeling approach se baseia em teorias da linguagem. A idéia é que basta criar imagens da realidade para que se consiga produzir efeitos concretos na realidade. Fiquei com grande interesse em aprofundar meus estudos nesse campo. Se o senhor puder me recomendar leituras, eu agradeceria imensamente desde já. Minhas homenagens.
Muito interessante o blog, assim como o post.
O assunto merece muito debate para que tristes fatos acontecidos em nosso estado não voltem a acontecer.
Desta feita, o debate precisa ser ampliado, inclusive com membros da equipe de transição da futura governadora.
Um amplexo.
Bruno
É um imenso prazer conhecer o teu blog, bastante elucidativo no que concerne ao elitismo difundido pelos tucanos.
Chego, como diria Boaventura de Sousa, "pelas mãos de Alice", minha Alice tem outro nome - Luciane Fiuza.
Ministrei aulas no curso de Comunicação, salvo engano, em 1993, pelo departamento de Sociologia, infelizmente não tive oportunidade de conhecer-te pessoalmente, mas estou muito satisfeito com os pecados... Não os meus, são bem mais que os dez dos tucanos.
Parabéns pela abordagem conscienciosa.
Abraços,
Pedro