Pular para o conteúdo principal

Os 10 pecados da política cultural do PSDB

Quinto pecado: Ausência de políticas de leitura

Com os índices de escolaridade que possui, o Pará precisa formar, com urgência, uma geração de leitores. A leitura é uma estratégia de promoção social complementar às políticas de educação e o espaço por excelência por meio do qual estas últimas se ligam às políticas culturais. O PSDB não percebeu isso em nenhum momento dos últimos doze anos. Não houve investimento público conseqüente na área da leitura, não houve revitalização ou ampliação dos poucos recursos existentes. A política cultural para a leitura se centrou no projeto da Feira do Livro, que, não obstante seus méritos, não pode ser considerado, realmente, como uma política de leitura.

Em primeiro lugar porque está centrado numa perspectiva de troca econômica e, como se sabe, nem todo mundo pode comprar livros. Aliás, poucos podem fazê-lo. Em segundo lugar, porque pressupõe a leitura como uma efeméride: como um festival que acontece uma vez por ano. Ninguém que lê realmente, lê durante quinze dias ao ano. Ora, o que caracteriza o hábito da leitura – e, portanto, deve caracterizar a política cultural no campo da leitura – é a constância, e não a efeméride.

Dizer que a feira do Livro é a quarta do país em número de visitantes é muito bonito, mas o número efetivo é que ela não é a quarta em vendas efetivadas. E isso porque a renda, no Pará, é mal distribuída. Não havendo recursos para que se compre livros e sendo a leitura uma prática social vital de promoção social, parece óbvio que a política cultural precisa ter, sim, um compromisso sério na promoção da leitura. E isso se faz equipando bibliotecas, sobretudo escolares, e tornando-as atrativas para a comunidade.

Comentários

Yúdice Andrade disse…
Visitando a última feira, chamou-me a atenção a chegada de um ônibus trazendo alunos de alguma escola pública estadual. Deveria ser a prova do quanto o governo se preocupava em fomentar a leitura.
Ocorre que os alunos chegavam num momento em que não havia simplesmente nenhum evento que pudesse motivá-los à leitura. Era um passeio, tão somente. Notei como a garotada estava interessada em charlar, como dizemos, mas sequer olhavam para dentro dos estandes.
Só faria sentido se as visitas dos alunos fossem programadas para combinar com palestras, oficinas ou congêneres, que realmente pudessem estimular em alguns daqueles jovens o gosto pela leitura. Por que não um bate papo com os escritores famosos que visitaram o evento? Um horário reservado só para os alunos da rede pública? Isso sim mostraria o engajamento do governo com uma política educacional. O resto é perfumaria.
hupomnemata disse…
E imagine se essa interação fosse mais frequente, e não só na Feira...

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Comentário sobre o Ministério das Relações Exteriores do governo Lula

Já se sabe que o retorno de Lula à chefia do Estado brasileiro constitui um evento maior do cenário global. E não apenas porque significa a implosão da política externa criminosa, perigosa e constrangedora de Bolsonaro. Também porque significa o retorno de um player maior no mundo multilateral. O papel de Lula e de sua diplomacia são reconhecidos globalmente e, como se sabe, eles projetam o Brasil como um país central na geopolítica mundial, notadamente em torno da construção de um Estado-agente de negociação, capaz de mediar conflitos potenciais e de construir cenas de pragmatismo que interrompem escaladas geopolíticas perigosas.  Esse papel é bem reconhecido internacionalmente e é por isso que foi muito significativa a presença, na posse de Lula, de um número de representantes oficiais estrangeiros quatro vezes superior àquele havido na posse de seu antecessor.  Lembremos, por exemplo, da capa e da reportagem de 14 páginas publicados pela revista britânica The Economist , em...