O post da virtude já está feito, mas me permito algumas outras observações sobre a coisa, não especificamente no que se refere à política cultural, mas no que tange à dimensão do bom senso como virtude. Queria complementar o tema observando que o Bom Senso é, sobretudo, um ato reflexivo. Como disse no post anterior, ter bom senso é ter disposição em abrir mão da verdade pessoal em favor da verdade do grupo e, portanto, se dispor a ser menor em relação ao egocentrismo que, naturalmente e culturalmente, nos engendra como pessoas. Sobretudo na nossa cultura, cujo iberismo latente exige que nos vejamos sob um farol de dignidade e honra – na verdade, simplesmente vaidade.
Já perceberam a diferença entre os discursos no mundo ibérico e os discursos no mundo anglo-saxônico? No mundo ibérico nós nos emproamos e sempre usamos um tom laudatório, com gestos rebuscados e ridículos, assumimos um tom de dignidade e nos mostramos honrados por termos sido convidados a nos fazer ouvir pelos demais. No mundo anglo-saxônico, ao contrário, quem discursa sempre adota um tom de auto-comiseração, sempre procura se ridicularizar um pouco, sempre adota um tom humilde, encontrando formas de dizer, mais ou menos, “não sei bem por que me escolheram para falar, não tenho mais a dizer, certamente, que outros de vocês, mas a vantagem é que vou falar tão mal que, provavelmente, não serei nunca mais convidado a falar”.
Esse mesmo tom está presente numa fala curiosa de Woody Allen: “A única coisa que lamento é não ser outra pessoa”. Podemos chamar a isso de humor de autocomiseração. E a autocomiseração pode ser entendida como uma forma de bom senso. Percebamos que o humor faz parte do bom senso, posto que é preciso ter humor para negar-se a si mesmo a condição de excepcionalidade que, talvez, sempre desejamos nos atribuir a nós próprios. Quem tem bom senso tem, digamos assim, bom humor. Quem não tem bom senso faz uso, digamos assim, a ironia.
E aqui devemos perceber a diferença entre humor e ironia. O humor compreende, a ironia humilha. Espinoza diz que é preciso ter cuidado com o riso, porque ele pode ferir e matar, mas também pode animar e fazer viver. Aí a diferença entre humor e ironia, esta uma espécie de “riso mau”. Em Espinoza, devemos renunciar ao “riso mau”: “Non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere”. O humor faz rir de si mesmo ou então se solidariza com o riso, a ironia estabelece uma distância.
Rainer Maria Rilke está de acordo, quando diz que a ironia não desce às profundezas. Freud está de acordo, quando diz que o humor tem, “não apenas algo de libertador, mas também de sublime e elevado”.
O Bom senso – essencialmente um ato de negação do individualismo –, como o humor – essencialmente, ele também, um ato negação do individualismo –, liberta, sublima e eleva. Sejamos bons cavalheiros: desiludamo-nos com nós mesmos.
Já perceberam a diferença entre os discursos no mundo ibérico e os discursos no mundo anglo-saxônico? No mundo ibérico nós nos emproamos e sempre usamos um tom laudatório, com gestos rebuscados e ridículos, assumimos um tom de dignidade e nos mostramos honrados por termos sido convidados a nos fazer ouvir pelos demais. No mundo anglo-saxônico, ao contrário, quem discursa sempre adota um tom de auto-comiseração, sempre procura se ridicularizar um pouco, sempre adota um tom humilde, encontrando formas de dizer, mais ou menos, “não sei bem por que me escolheram para falar, não tenho mais a dizer, certamente, que outros de vocês, mas a vantagem é que vou falar tão mal que, provavelmente, não serei nunca mais convidado a falar”.
Esse mesmo tom está presente numa fala curiosa de Woody Allen: “A única coisa que lamento é não ser outra pessoa”. Podemos chamar a isso de humor de autocomiseração. E a autocomiseração pode ser entendida como uma forma de bom senso. Percebamos que o humor faz parte do bom senso, posto que é preciso ter humor para negar-se a si mesmo a condição de excepcionalidade que, talvez, sempre desejamos nos atribuir a nós próprios. Quem tem bom senso tem, digamos assim, bom humor. Quem não tem bom senso faz uso, digamos assim, a ironia.
E aqui devemos perceber a diferença entre humor e ironia. O humor compreende, a ironia humilha. Espinoza diz que é preciso ter cuidado com o riso, porque ele pode ferir e matar, mas também pode animar e fazer viver. Aí a diferença entre humor e ironia, esta uma espécie de “riso mau”. Em Espinoza, devemos renunciar ao “riso mau”: “Non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere”. O humor faz rir de si mesmo ou então se solidariza com o riso, a ironia estabelece uma distância.
Rainer Maria Rilke está de acordo, quando diz que a ironia não desce às profundezas. Freud está de acordo, quando diz que o humor tem, “não apenas algo de libertador, mas também de sublime e elevado”.
O Bom senso – essencialmente um ato de negação do individualismo –, como o humor – essencialmente, ele também, um ato negação do individualismo –, liberta, sublima e eleva. Sejamos bons cavalheiros: desiludamo-nos com nós mesmos.
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