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Frantz Fanon

O conceito de identidade em Frantz Fanon foi o tema do último seminário de sociomorfologia.

O pensador - Fanon nasceu em 1925 numa família burguesa e negra – e, portanto “assimilada” – da Martinica. Aos 19 anos lutou na Resistência francesa, sendo ferido e, pelo conjunto dos seus atos, recebendo um menção por bravura. Retornou à Martinica e, nesse momento, conhceu Aimé Césaire, o grande poeta antilhano, influência direta sobre sua formação. Em 1946, aos 21 anos, começou a estudar medicina na Universidade de Lyon. Especializou-se em neuropsiquiatria e em neurocirurgia. Em 1952 lançou “Peau noire, masques blancs” (Pele negra, máscaras brabcas), obra que contém o essencial de seu pensamento: o respeito pelos deserdados da sociedade colonial.
Em 1956 divulgou seu texto “Racisme et culture”, monumento de toda a reflexão pós-colonialista e, logo em seguida, ingressou formalmente nas fileiras da FLN – Frente de Libertação Nacional da Argélia. Estabeceu-se em Tunis, desenvolvendo um trabalho simultâneo como médico, jornalista, escritor e militante. Em 59 aparece seu segundo livro, “L’na V de la révolution algérienne”, mais tarde rebatizado como “Sociolgie d’une révoltuion”. Em 61 começou a escrever sua grande obra, “Les Damnés de la terre” (Os condenados da terra). Dedica suas últimas forças a essa obra, obliterada pelo câncer linfático que lhe diagnosticam. Morreria a 6 de dezembro desse ano. Em 1964 foi publicada uma compilação de seus trabalhos disperços, conformando “Pour la révolution africaine”.

As idéias – No seminário, destacamos os seguintes conceitos na obra de Fanon:
1) a ironia da “consciência européia” – Fanon fala à consciência européia, civilização que se autoconsiderava superior, devolvendo-lhe a imagem da sua obra de violência sistemática e a isso chamava de “miszsão civilizadora”;
2) a alienação como “duplo processo” – não apenas econômico mas, também, “de interiorização”: a solução que o sistgema colonizador propõe ao colonizado é, simplesmente, a negação da sua própria condição de negro ou árabe... o que equivale ao bombardeamento da “intrínseca humanidade do homem”;
3) a tese de separação entre o “eu individual” e o “eu existencial” do colonizado como decorrência de uma agressão subjetiva inerente a todo processo colonial;
4) a situação de ser “estrangeiro em sua própria terra”, que atribui ao colonizado, na medida em que este se vê compelido a pautar sua vida cotidiana num comportamento e em valores que não externos à sua cultura;
5) a noção de “minoria estática”, resultado do fato de serem “maioria estatística” subjulgada;
- a aproximação de seu pensamento à obra de Marcel Mauss, especificamente quando compreende o colonialismo como um fato social total – efetivamente, a “totalidade” do fenômeno estaria na percepção de que o preconceito e a idéia de “raça” perpassam todos os demais sistemas de valores instalados nessas sociedades, possuindo uma dimensão política que se evidencia no processo de controle, de subjugo, e de violência que lhes são inerentes.

A reflexão – O que temos a dizer, em primeiro lugar, é que a obra de Fanon deve ser colocada ao lado da de Aimé Césaire e de Léopold Senghor no pantão do pensamento descolonizador do mundo francófono. Isto dito, e perdoado o tom dramático de alguns de seus escritos, devemos perceber que é na sua obra que se encontra a fundação da idéia de “violência simbólica”, mais tarde trabalhada por seu contemporâneo na Argélia, Pierre Bourdieu. Além disso, me parece importante ressaltar certa dimensão sociológica na obra de Fanon que interessa em muito às nossas pesquisas: especificamente a sua reflexão sobre a dicotomização da identidade, gerativa de um efeito complexo e neurótico que é o mesmo que se verifica na teoria da “mirada estrábica” de Octavio Paz (que aborda, note-se, outro contexto). O título de sua primeira obra assinala com precisão essa dicotomização: pele negra, máscara branca constitui um primor de título: ele tematiza com precisão essa duplicidade no processo identitário do colonizado, ressaltando sua dramaticidade.

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