Trotsky III
Reivindiquemos a herança de Trotsky porque ele foi um pensador brilhante e um exemplo de integridade política e humana. Mas também, especificamente, porque ele foi um internacionalista, que superou a mediocridade de todo nacionalismo, de toda identidade rígida, de toda comunicação unidimensional. E porque acreditou na democracia e ousou dizer que é possível construir o socialismo com democracia, por paradoxal que isso pareça a muitos. E porque acreditou que o poder é uma relação ambivalente e resulta da construção de muitos, bem como acreditou no debate entre os grupos, mesmo que rivais e na composição e construção do poder.
Um tanto mais moderadamente – considerando que não foi um pacifista e sem tentar explicar o contexto histórico dos bolcheviques – reivindiquemos sua herança porque, além de tudo, foi um estrategista fabuloso. Foi León Trotsky quem inventou o exército vermelho e venceu duas guerras simultâneas, uma interna, contra os mencheviques e outra contra as potências européias.
Porfim, ainda mais modestamente, reivindiquêmo-la porque, além de tudo, Trostky foi um comunicador inspirado. Foi ele que substituiu, de última hora, a denominação ministro pela de "comissário do povo". Que boa jogada de marketing, não? Haverá algo mais revolucionário do que comissário do povo num governo revolucionário? Outro exemplo é a denominação de exército vermelho para as forças militares do país nascente. Um terceiro exemplo é o fato de ter transformado um trem numa espécie de sistema de comunicação, ou de marketing de guerra, pois foi o fato de passar a viver num trem, levando consigo uma rotativa, víveres e equipamento para distribuir entre os postos militares de toda a nação, além de uma sala de aula para o treinamento dos oficiais que transformou o exército vermelho em sinônimo de unificação do país.
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