Junichiro Koizumi foi primeiro ministro do Japão de 2001 a 2006. A base do seu poder político e, ao mesmo tempo, a sua contribuição central para a sociedade japonesa, foi sua capacidade de reestruturar, simultaneamente, o PLD - Partido Liberal Democrático - e o sistema nacional de investimentos públicos. Sua lição política: reformar é construir o poder.
O raciocínio é simples: quando se reforma, realmente, algo, se tem a faculdade de reordenar as estruturas sociais de poder antes presentes. Por mais conservadoras que sejam. Mas é importante realmente reformar. E quando falo reformar não estou dizendo nem fazer um arranjo superficial e nem fazer uma mudança profunda que mantenha as coisas no mesmo lugar.
E isso faz muito sentido no Japão, porque o Japão, em termos de política, é uma avacalhação. Pensem no Senado Brasileiro. Ok, talvez não seja pior, mas é uma avacalhação. O PLD, por exemplo, é uma excrescência política em forma de partido. Nada tem de liberal e nada tem de democrático, é simplesmente um arranjo político, feito após a guerra e em vigor até hoje, para acomodar os interesses financeiros na ordem política. Explicando melhor: é o partido dominante no país e a estrutura do seu poder está no fato de sempre ser bom, ao mesmo tempo, para os seguintes lados: os empresários, que precisam das benesses do poder público; os burocratas, que se perpetuam nos cargos públicos formando uma imensa camada social bem remunerada e satisfeita; os políticos, que precisam dos primeiros para financiar suas campanhas e dos segundos para governar sem chateação.
Pois bem, esse arranjo sempre funcionou com base numa lei geral: o aumento do déficit público. Para contentar a todos e para mocver a economia o estado japonês, centrado no PLD, se tornou um estado empreendedor. Crise à vista? Mais obras públicas. O resultado? Se diminui o impacto da crise ao custo de, ininterruptamente, aumentar o déficit público.
O Japão vivia um incesto político: negócio de estado protegendo negócios privados de classe, corrupção e falta de vontade política para qualquer mudança.
Não obstante, a conjuntura econômicaz mostrou que essa situação era insustentável. O fato é que o Japão viveu duas recessões nos anos 1990 e, em 2000, quando iniciou a ascensão de Koizumi estavas às portas de uma terceira. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caíra 40% em um ano. Para completar, o primeiro ministro, pertencente ao PLD, Yoshiro Mori, era tão incompetente quanto era figurativo, e julgava que sua única missão era manter o status quo vigente.
A ascensão de Koizumi se deu nesse conexto. Ele se apresentou como o candidato de reforma política e econômica, com uma plataforma que conquistou as bases do partido. Não agradava aos dirigentes partidários, mas a pressão da militância tornou inevitável sua indicação.
No poder, prometeu "reformas sem vacas sagradas". E as fez no quanto do possível. Veja a seguir.
Comentários