Pular para o conteúdo principal

As Vozes de Marrakech, de Elias Canetti

Elias Canetti é um crítico implacável do autoritarismo, um teórico das “massas” – e, assim, do século XX – e um observador contundente corrupção moral das sociedades modernas. “Masas e poder” é um desses livros que todo aluno de comunicação deveria ser obrigado a ler. A trilogia de suas memórias - A língua absolvida, Uma luz em meu ouvido e O jogo dos olhos – por outro lado, estão entre meus livros de cabeceira. As vozes de Marrakech, a seu turno, é um livro meio etnográfico, meio de relato de viagem, gêneros de leitura que não estão no mesmo plano mas que, por vezes, fazem o prazer dos mesmos leitores. Como eu, que sou aficcionado por ambos os gêneros, bem como pelos relatos memorialísticos e biográficos, correspondências, diários e tudo, enfim, que reconstitua a pessoa, o lugar e outras “verdades”.

Na sua sabedoria, Canetti não reproduz, meramente, o exótico, mas sim, permanentemente, a sua experiência de encontro ao que, a seus olhos, muito bem entendido, é o exótico. E isso faz toda a diferença, porque Canetti supera o eurocentrismo. Trata-se de uma literatura feita de contrapontos. Por isso mesmo, de uma literatura ética, que não se envergonha das próprias limitações diante do encontro com o Outro e que, ao mesmo tempo, tem coragem de se posicionar, discursivamente, tal como é, ou se julga ser, com todos os solipsismos da cultura européia. Canetti relata a sua pessoa, sem condescendência e algumas vezes com o humor do auto-espanto. Ao fazê-lo, produz a tradução intercultural. A tradução intersemiótica. E acaba por se posicionar face às iniqüidades de todas as relações de poder, presentes em toda forma de encontro.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”