Obama perdeu 15 pontos nas últimas semanas. De 60% de aprovação para 15%. A razão disso não é, ao contrário dos que os folharões de lá e daqui publicam, sua política de saúde. É, na verdade, a campanha de desinformação que esses folharões vêm movendo sobre o assunto. Inventaram que Obama está querende criar um “Comitê da Morte”, o qual decidiria sobre quais idosos receberiam tratamente e quais seriam deixados ao léu. Isso é mentira. A verdade sobre o assunto é a seguinte:
Situação da saúde nos EUA? O país gasta 18% do seu PIB na saúde. É muito dinheiro no cenário de um país ocidental rico (a França, por exemplo, gasta 11,5%). Ocorre que esse investimento é mal planejado e socialmente mal repartido. 46 milhões de americanos (16% da população) não estão cobertos por um plano de saúde, público ou privado. Uma das bandeiras políticas de Obama é mudar esse sistema. Seu projeto é fraco, tem uma aura neoliberal e, se comparado aos sistemas de saúde dos países europeus é “minimalista”. Porém, os republicanos estão horrorizados com a proposta, que taxam de “socialista”.
O modelo americano? No Brasil e na Europa a saúde é pensada como um grande sistema, organizado e regido pelo Estado ou, em algunas países, como um consórcio público-privado. Lá, não existe essa concepção. O mais próximo de um sistema realmente público é o Medicare, que, no entanto, é pensado e se pensa como uma empresa. O próprio estado tem um outro programa, o Medicaid. O primeiro é destinado aos idosos (mais de 65 anos) e aos inválidos sem renda. Custa por ano ao Estado cerca de 200 bilhões de dólares. O segundo se destina às pessoas pobres, mas, nas prática, não é um programa, e sim o conjunto de 50 programas diferentes. Juntos, eles cobrem 25% da população e demandam 4% do PIB americano.
O sistema de saúde empregatício? As pessoas em idade ativa são amparadas (ou deveriam sê-lo) por planos de saúde cobertos pelo empregador. É o caso de 60% dos americanos. A maioria dos assalariados paga uma taxa que equivale a 30% do valor do plano. A empresa paga o restante. Porém, no tratamento, o usuário sempre tem que desembolsar um percentual da consulta (entre 10 e 16%). E reclamam disso. 16% de uma neosaldina é uma coisa, de uma cirurgia é outra. As empresas reclamam, elas, do alto custo da sua parte. Todos mundo acha que é melhor não adoecer.
O que propõe Obama? Sua reforma não vai a fundo nesse sistema. Mantém a segurança privada mas propõe um sistema alternativo, com crédito prúblico. E eis aqui, logo de cara, a fala política do projeto. O novo sistema, fortalecido com verba pública, menos oneroso para os assalariados mas nem tanto para as empresas, acaba concorrendo com os outros sistemas privados, que não deixam de existir. Advinhe que ficou insatisfeito? No que se refere à segurança de saúde pública, a proposta de Obama também não vai à fundo. Mantém tudo como está e apenas cria mais um sistema, também com verbas públicas, que será, tal como o sistema privado, parcialmente custeado pelos assegurados. Advinhe que ficou insatisfeito? E sua proposta também cria uma empresa pública que servirá como mediadora das relações entre assegurados pobres e os vários sistemas públicos. Tudo muito complicado.
Quem controla tudo isso? É um dos focos do debate. A idéia de Obama é uma comissão pública. Os republicanos acusam essa proposta de golpismo. Muitos democratas estão de acordo. Dizem que é a tentativa de unificar todo o sistema, à médio prazo, tal como nos países realmente civilizados. A seu ver isso fere a lei da livre concorrência e sobrecarrega a missão do Estado.
Quanto custa o plano Obama? US$ 100 bilhões por ano. Isso vai aumentar os impostos significativamente. Bom lembrar que Clinton tentou algo parecido e foi derrotado fragorosamente. Sua derrota marcou um período de derrocada polkítica e queda na avaliação da opinião pública.
Ver aqui um estudo completo, em francês, sobre o sistema de saúde americano.
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