Ainda não tive tempo de falar melhor, por aqui, sobre a I Conferência Estadual de Comunicação. Tenho trazido o assunto regularmente ao Hupomnemata e conversado com muita gente a respeito, mas me permanece certa impressão de que o tema é um grande tabu, ou então um episódio de medo, ou receio, um tanto sórdido. Senti falta, na conferência, do poder público e da classe política. E também de sindicatos, professores e alunos de comunicação, além de algumas entidades da sociedade civil. Acredito que a organização, à frente dela o Comitê da Organização Estadual, presido pelo Sérgio Santos, atualmente diretor de Comunicação Popular da Secom, fizeram o possível, em meio a cortes orçamentários que todos sabemos terem sido inevitáveis. A responsabilidade pelo que estou falando de modo algum está neles, mas sim na própria motivação da sociedade para discutir comunicação. Da classe política só percebi, na conferência, o vereador Alfredo Costa e a vice-prefeita de Ananindeua Sandra Batista, ambos do PT. Filiados ao sindicato dos jornalistas, certamente, pessoas combativas, certamente, mas vi pouco o sindicato. O Enecos estava muito presente, mas não vi professores ou pesquisadores de Comunicação. Também senti falta de blogueiros e do pessoal da cultura digital. O pessoal da cultura também deveria, acredito, ter tido uma maior participação, inclusive porque a II Conferência Nacional de Cultura está se aproximando e as ligações entre comunicação e cultura são iminentes.
O saldo foi positivo, afinal, porque tivemos uma conferência intensa, viva, com bons debates e boas propostas, mas ainda precisamos construir consensos. Vamos à Confecom em meio a muitas contradições, e ela será um espaço político de primeira grandeza para o campo da comunicação e da cultura.
Só para lembrar, a convocação da conferência só foi possível porque houve um veto ao tema do Controle Social. Tivemos e seguiremos tendo uma disputa acirrada com os setores do empresariado que monopolizam os meios de comunicação. E eles, como se sabe, têm aliados governamentais poderosos.
O primeiro grande absurdo da conferência é o fato, inédito, de o setor empresarial ter obtido a garantia de 40% dos assentos para seus representantes. Ora, eles não fazem parte da sociedade civil? Ao que saibamos, todos nós e Habermas inclusive, sim. Então, que negócio é esse de distinguir entre “sociedade civil não-empresarial” e “sociedade civil empresarial”?
O normal, o modelo de todas as outras conferências, é 20% das vagas para governo e empresas e 80% para a sociedade civil.
Outro absurdo foi a nulidade dos processos municipais e regionais da conferência, bem como o impedimento da conferência estadual realizar qualquer deliberação.
Tive a honra de ser indicado como um dos delegados do Pará à Conferência Nacional, e me sinto obrigado a posicionar o debate. Compreendo que possa haver processos de silenciamento do tema em veículos de comunicação e em empresas, mas, sinceramente, espero que os profissionais da área, além de pesquisadores e professores de comunicação, bem como todos aqueles que utilizem os meios de comunicação na sua vida cotidiana de uma maneira algo mais reflexiva, como blogues de informação e trabalhadores da área cultural possam ajudar a pautar o debate.
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