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O desenvolvimento comparado e o Muro de Berlim

A frase de Kruschev ficou gravada na história: «Vamos fazer um muro em Berlim, e o Ocidente vai ficar a olhar para ele como uma ovelha estúpida». O que de fato aconteceu. Mais aconteceria, como sabemos. Porém, sem nenhuma nostalgia pelo muro de Berlim, essa infame representação de um conflito que não é socialista, apesar de ter simbolizado o socialismo para muitos que acreditaram que o estado soviético era, de fato, um estado socialista, é preciso perceber a história como ela de fato é, superando as matrizes discursivas que constituem interpretações erradas e apressadas.
Por exemplo, entre 1989 e 2008, segundo dados do FMI, a participação da Comunidade dos Estados Independentes - os países que compunham a União Soviética com exceção das três nações bálticas (Lituânia, Estônia e Letônia) - na economia mundial decaiu de 7,7% para 4,6%. Foram sete anos seguidos de recessão, com o PIB dessa comunidade decaindo 39,50% na primeira década após a dissolução do regime. E somente em 2007 sua economia atingiu o mesmo patamar de 1989.
Essa depressão corroeu a cadeia produtiva dos estados ex-soviéticos: estagnou a indústria e as perdas na agricultura foram maiores que as havidas durante a II Grande Guerra. Se o mundo cresceu 89,9% desde a queda do muro, a CEI cresceu apenas 9,60%.
Indo do plano econômico para o social, e apoiados não pelo FMI, mas pelo índice de Gini, temos um cenário caótico, pois a depressão econômica se associou a um processo galopante de concentração de renda. Como se sabe, o indicador Gini vai de 0 a 1; quanto mais próximo de 0 mais condições de desenvolvimento social. Pois bem, se olharmos apenas para a Rússia vamos perceber que seu índice de Gini passou de 0,271 em 1991 para 0,415 em 2008. E enquanto em 1989 os 10% mais ricos ganhavam três vezes mais que os 10% mais pobres, hoje essa distância aumentou incrivelmente: os 10% mais ricos ganham 40 vezes mais que os 10 mais pobres.
Na CEI, atualmente, mais de 50% da população ganha 65% ou menos da média do salário nacional, enquanto 13% dos trabalhadores vivem com salários inferiores a cem euros, para uma cesta básica avaliada em 170 euros.
No campo das liberdades civis observa-se um processo contínuo de elevação das taxas de violência urbana, das doenças cardiovasculares e uma deterioração generalizada da rede sanitária. Ainda que as pessoas tenham, hoje, ao menos em tese, direitos mais amplos de expressão, reunião e movimento, esses direitos são constantemente marginalizados pelo controle econômico.

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