Estou viajando e o blog está no modo "releitura". O post a seguir foi publicado originalmente no dia 28/11/2006. Retorno no final de janeiro.
Terceiro pecado: Confusão entre cultura e turismo
A cultura possui uma relação estratégica e evidente com o turismo, mas a cultura não é só turismo. O PSDB procurou ver a cultura como um instrumento de promoção do turismo, o que é legítimo, mas, nessa operação, acabou reduzindo a complexidade e a variedade cultural à lógica imposta pelo turismo. Apresentar grandes obras como a Estação das Docas como política cultural é obscurecer grandes lacunas deixadas no campo da produção e da crítica. Apresentar obras importantes como o Museu de Arte Sacra como um projeto cuja principal função é a revitalização do turismo é perder de vistas a sua dimensão reflexiva.
A cultura valoriza o turismo e isso é muito importante, mas reduzir a função da cultura a esse objetivo equivale a se desvalorizar a si mesmo. Trata-se, com efeito, de uma espécie de prostituição cultural: a pretexto de ganhar uns tostões, se reduz a complexidade cultural paraense. Para facilitar a vida dos turistas, se reduz as contradições que, em si mesmas, constituem a cultura. Passa-se a viver uma cultura de resumos, de frases feitas, de idéias tão simples como a dos simplórios e metafísicos seres dos livros de inglês que não vão além de coisas como “My name is Bob, what’s your name?” – ao que o outro responderá, certamente, “My name is Peter and what’s his name?”. A cultura reduzida à economia do turismo vira uma relação deprimente e patética – e em inglês pobre e metafísico: Hi, this is Pará! And this... this is Pará too. E o problema é que os próprios agentes da diversidade cultural paraense passam a reproduzir essa relação simplista na sua vida cotidiana.
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