A derrota da esquerda, nas eleições do Chile, precisa ser avaliada para além da superficialidade. Durante 20 anos o Chile foi governado por uma aliança de esquerda, denominada Concertación. Os governos de Aylwin, Frei, Lagos e Bachelet se sucederam nessa aliança. Não obstante, todos eles fracassaram na missão de construir uma política socialista estruturada. Sendo mais especifico, todos eles fracassaram na tarefa de substituir as estruturas de um modelo capitalista por um modelo socialista. Estamos falando de estrutura, bem entendido, e não da superficialidade das políticas ditas “de esquerda”. A influência norte-americana na estrutura econômica do país é imensa e se consolida por meio de acordos bilaterais que, dentre outras conseqüências, afastam o Chile do Mercosul.
Isso resulta, certamente, do pacto social dos setores mais progressistas com as elites, firmado ao fim da ditadura Pinochet, há 20 anos. Nele, os setores progressistas cederam muito. E depois não conseguiram recuperar o terreno perdido, acomodando as expectativas da esquerda numa areia movediça consolidado pela Constituição de 1980. Uma constituição feita durante a ditadura e até hoje em vigor.
Ora, no geral, o mesmo acontece no Brasil atual, ou pode vir a acontecer, caso as esquerdas não recuperem espaços perdidos para as elites nacionais na composição centrista que resultou na eleição de Lula. Efetivamente, temos as condições históricas para recuperar parte desse terreno e continuar o avanço necessário, agora, considerando os níveis de aprovação do governo Lula. Em acréscimo, não temos uma constituição elaborada pela ditadura.
A lição que a derrota da esquerda chilena deixa para todos nós é que, mesmo fazendo parte do jogo político, a aliança tática com os adversários naturais demanda uma percepção clara de que ela deve conter, sempre, um gérmen de ruptura. Dê-se, essa ruptura, como outro jogo tático de tensão ou como turbulência controlada e crescente.
Ou seja, toda forma de paciência nada tem a haver com toda forma de coragem.
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