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Chile 3

Mas... vejamos as coisas de outro modo: a implosão da Consertación é, em última instância, muito benéfica. Era a esquerda chilena – a Consertación -, em última instância, que impedia a formação de uma esquerda verdadeira, não-pactuante e, portanto, não-esclerozada. Considerando a tendência à esquerda da maioria da população chilena, muito inconformada com os rumos do país, com a política de alianças neoliberais estabelecidas e com a política assistencialista de um governo de esquerda que há 20 anos trai o seu próprio movimento histórico, a vitória da Alianza deve ser compreendida como um voto popular intuitivo. Um voto que pressente que essa esquerda de Bachelot, Frei et caterva precisa morrer para que alguma outra esquerda nasça.
Afinal, a esquerda representada pela Consertación, excessivamente cristã – nenhum movimento cristão, como nenhum movimento religioso, no fim das contas, é, realmente, de esquerda – é a pedra que institucionaliza o infame regime do binominalismo e, assim, é a pedra que deve ser retirada para que a roda da história, enfim, gire... ladeira abaixo e desgovernada... Ainda bem. Às vezes, precisamos ser pelos caos, porque só ele resolve.

Comentários

Anonymous disse…
Semelhanças com o Brasil?
Cássio disse…
Acerca do retorno da direita ao poder no Chile, reproduzo abaixo o que postei em outro Blog, a partir da análise do texto de Breno Altman sobre a Consertación:

"Nos anos 90, outro Altmann, nesse caso o historiador Werner Altmann, Doutor em História Econômica (USP) e Coordenador da Pós-Graduação da UNISINOS até pouco tempo, sedimentava suas análises acerca do recrudescimento de uma "Nova Direita Americana" emergida por Bush, o filho, no interior dos segmentos extra-institucionais do Partido Republicano, eivado de uma longa tradição inaugurada pela dupla Reagan/Bush, o pai. Em sua análise, tomando por base as reflexões oriundas da "lógica da Barbárie Latina" em torno dos diálogos com Leopoldo Zea, advertia Altmann, sobre as reviravoltas do pensamento conservador e reacionário no continente, mantidos sob os relicários da mudança e da transformação. A partir dessa análise e pontuando-se aqui as pertinentes observações de Breno Altman, os movimentos recentes do jogo eleitoral no continente, poder-se-íam admitidos na perspectiva cíclica da democracia, no natural revezamento dos grupos. Legítimo seriam, porém, se não evidenciassem as fortes distorções sociais de um continente marcado pela concentração da riqueza e secular modificação de perfil das oligarquias, reproduzidas pela permanente lógica da exclusão social e econômica. Sem dúvida, mais que o revezamento natural do jogo político, a eleição do novo presidente chileno (país simbólico no escopo da democracia latina recente)pode apontar mais que um sinal. Talvez um alerta aos flertes de uma nova (velha) direita oligárquica aos desejos mudancistas sutis associadas às classes não-hegemômicas cujas aspirações não se sustentam mais na prédica do assistencialismo e de arroubos cadernais. Um alerta às propostas progressistas na defesa de um novo modelo de desenvolvimento ao país menos permeáveis à sedução de discursos e práticas de um passado ainda não exorcizado, cujos vampiros estão vigilantes a acertar as contas com a história".

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