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A DS e Daniel Bensaid


Na caixa de comentários deste post tem um debate interessante sobre a DS, o PT e o internacionalismo socialista, que teve como um de seus representantes maiores, na atualidade, o filósofo político Daniel Bensaid, recentemente falecido. Publiquei este post na terça-feira, e como ele motivou o debate sobre o tema, a meu ver bem interessante, republico-o novamente.


Dia 12 de janeiro faleceu, aos 64 anos, o filósofo e cientista político Daniel Bensaid. Foi um fundadores da Juventude Comunista revolucionária (JCR), com Alain Krivine, em 1966; um dos líderes de Maio de 68, com Daniel Cohn-Bendit; um dos fundadores da Liga Comunista Revolucionária, a LCR, partido trotyskista da França; um dos fundadores do Fórum Social Mundial; um dos fundadores da Fondation Louise-Michel, atualmente um centro importante da filosofia política na França e, em fevereiro do ano passado, um dos fundadores do Novo Partido Anticapitalista, NPA, juntamente com Olivier Besancenot.
Sua atividade política foi intensa, com destaque para a sua participação na criação do Bloco de Esquerda, grupo de partidos políticos de esquerda no cenário europeu e que provavelmente representa o futuro da esquerda na Comunidade Européia. Com efeito, era um dos principais dirigentes da IV Internacional e esteve engajado em todos os grandes combates internacionalistas dos últimos 40 anos.
Sua obra também é extensa e importante. Nela, destacam-se vários estudos sobre Marx, Benjamin e sobre as dinâmicas internas do socialismo. Animou o debate político francês e internacional por meio de sua presença nas revistas Critique Communiste e Contretemps.
Bensaid nascera em 1946, em Toulouse. Era professor de filosofia política na Universidade de Paris-VIII.
Tive a felicidade de ter sido seu aluno, no ano de 2001, na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Ehess), em Paris, ocasião em que ele devassou, inspiradamente, a obra de Isaac Deutscher. 

Comentários

Emília disse…
Fábio, você conhece um livro chamado "Marxismo, modernidade e utopia", que o Bensaid escreveu junto com o Michael Löwy? Se conhece, o que você acha dele? Outra questão: quando você fala que Bensaid "devassou" a obra de Deutscher não há aí uma contradição? Afinal, eles não pertenciam ao mesmo campo político? Não eram herdeiros do trotskismo?
Carlinhos Veiga disse…
O mundo está cheio de grandes pensadores, dos quais só conhecemos alguns. Eu, por exemplo, nunca tinha ouvido falar desse tal Bensaid, mas pelo que tu colocas aqui, o cara devia ser muito bom. Pelo menos ele era engajado, e o que é melhor, não deixava de refletir sobre o que fazia. Obrigado por nos apresentar ao Bensaid. Vou procurar ler sobre ele.
Anonymous disse…
Professor Fábio,
o senhor já falou aqui sobre o Besancenot e sobre o Novo Partido Anticapitalista. Tudo isso, e também o Bensaid, pertencem a um mesmo espectro, o trostskismo, que o senhor admira, como também já disse aqui no seu blog. Aliás como o publicitário Chico Cavalcante, que todos sabemos ser um trotskista antigo. Todos sabemos também que essa corrente inspira a Democracia Socialista, da governadora Ana Júlia e do seu amigo Puty. Agora, se me permite, gostaria de lhe perguntar, poque estou intrigado com essa questão: apesar de tudo, de todo esse background, o que o governo Ana Júlia tem de trotskista? É possível dizer que tem algo a ver? Não haveria uma distância muito grande entre esses pensadores, inclusive Trotski, e a prática do governo Ana Júlia? Não valeria a pena discutir essa questão?
Emília, ouvi falar desse livro, mas nunca o li e nem o tenho, infelizmente. Em relação à palavra "devassou", acho que ela ficou forte, de fato. O que quis dizer é que ele fez um bom trabalho, digamos que uma devassa boa, no sentido de esclarecer a obra do Deutscher.
Olá Carlinhos. Não há de quê! Prazer vê-lo por aqui.
Anonymous disse…
É, Fábio, só que a DS, para ser DS, precisa se posicionar de certa maneira, digamos, trotskysta. E o governo Ana Júlia, para reivindicar essa filiação, precisa ter o que dizer sobre isso. O que eu vejo é um grande vazio ideológico no governo Ana Júlia, quase que um distanciamento do PT. Será que é esse vazio que os "doutores do governo" têm a oferecer para a militância? Eu sei muito bem que o grupo dos "acadêmicos", como se diz por aí, tem uma certa pretensão de serem "melhores" que outros petistas históricos, mas, eu te pergunto, será que o que eles tem a oferecer não é um grande vazio?
Mauro Avelar disse…
Vai ter um seminário aqui na PUC-SP para discutir a obra do Bensaid. Por que vc não dá um pulo? De resto, estou achando interessante esse bate boca sobre a DS do Pará. Sem querer ser "colonialista interno", como você sempre diz, Fábio, mas será que tem importância discutir os fundamentos políticos da DS do Pará? Terá isso alguma importância para: a) o movimento internacionalista, b) o PT, c) a DS brasileira ou d) a própria DS do Pará????
Anonymous disse…
Esse anônimo das 10:51 é sim um "imperialista interno". Por que a DS do Pará não pode discutir seus fundamentos internos? Só São Paulo pode discutir? Só a DS de Porto Alegre? E sobre Bensaid? Por que o Fábio tem que ir pra São Paulo para falar sobre ele? Puta merda, é demais...
Samantha disse…
Não se trata de colonialismo interno, de imperialismo interno ou de nenhuma outra coisa. Alguém lá em cima colocou a questão essencial desse debate, que é a seguinte: a DS do Pará já ouviu falar, alguma vez, em Trotsky, Bensaid, LCR e NPA?
Anonymous disse…
O dilema da DS do Pará é hamletiano, mas sem profundidade. A própria governadora é um exemplo, embora da falta de profundidade, e não do dilema.
Uau, o debate aqui esquentou! Mas acho que são muitas questões abertas, com espaço, também, para açordas contra a DS e contra o governo. Por mim tudo bem, porque, como já disse, o blog é um espaço de disputa, mas vamos nos ater aos elementos, ok?
Em primeiro lugar, nesse debate, há um problema de filiação ideológica entre governo do Pará e DS. Em segundo lugar, um problema de filiação ideológica entre DS paraense e DS nacional (ou gaúcha, conforme a perspectiva). Em terceiro, um problema de filiação entre a DS brasileira e o internacionalismo. Ora, na verdade se trata do mesmo problema considerado em três dimensões diferentes. O que nos leva a crer que não se trata de um problema específico, localizado aqui, ali ou acolá, mas de um problema estrutural, típico das dinâmicas próprias da políticas contemporânea. Acho que o principal problema está no campo da filosofia (ou da sociologia) política e que ele se deve ao fato de que, nas sociedades contemporâneas está havendo alguma ruptura ideológica de grandes proporções, que faz com que políticos, tendências, partidos e grupos políticos percam sua identidade ideológica e social. Uma espécie de clivagem do ego coletivo, digamos assim. Essa ruptura, da qual não sabemos, ainda, muito - apesar de que a sentimos já algum tempo - gera cobranças de postura, em geral fabricadas pelo discurso moralista da direita e endereçadas à esquerda. Mas também gera angústia e possibilita, a partir dessas angústias, que são angústias políticas, novo posicionamentos.
Anonymous disse…
A Democracia Socialista (DS) é anti-PT. É um espaço feroz, voraz e com interesses próprios. No poder, ela usa todos os artifícios ao seu alcance para destruir rivais e possíveis futuros rivais. Basta olhar para ver o que acontece: a luta interna, no governo Ana Júlia, é das mais ferozes da história do PT.

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