Entrevista publicada no DP de hoje. Chico Cavalcante fala sobre o livro "Marketing Político Radical", que acaba de lançar.
Jornalista e publicitário com larga experiência em marketing comercial, Chico Cavalcante também é uma referencia quando o assunto é marketing político e comunicação pública. Sua atuação no mercado e sua atividade empresarial o qualificam como um dos profissionais mais bem sucedidos do setor no Pará.
Autor de vários livros sobre comunicação e marketing, Cavalcante acaba de lançar “Marketing Político Radical”, uma abordagem inovadora sobre um tema sempre em voga. A obra, a venda nas melhores livrarias, mereceu destaque em revistas de circulação nacional. Veja o que pensa o autor.
O que é marketing político radical?Cavalcante – Marketing político é o uso das ferramentas de marketing para traduzir e propagar mensagens políticas. Simplificando, posso dizer que marketing político radical é o uso das ferramentas de marketing político de maneira alternativa, de modo a furar o monopólio de divulgação e dar chances de disputa a quem tem menos recursos financeiros e menos tempo de TV.
No seu livro, você cita a campanha de Obama, atual presidente dos Estados Unidos. Mas Obama é radical?Cavalcante – Não, obviamente. Mas sua eleição teve uma representação radical. Um negro ter alcançado a posição de mandatário maior de uma nação onde, até a década de 60 do século passado os negros não podiam nem usar os mesmos banheiros públicos que os brancos, guarda um componente radical, de ruptura de paradigma. Alem disso, a forma como a campanha de Obama usou as novas mídias representou um desvio de percurso importante em um pais onde toda a mídia eleitoral é paga a peso de ouro, diferente do Brasil, onde o sistema de distribuição do tempo de TV e rádio é mais democrático e gratuito.
Você criou esse conceito para explicar o modo como as organizações e partidos de pouca expressão vencem a disputa simbólica. Que exemplos inspiraram essa construção teórica?Cavalcante - Muitos, aqui e fora daqui. O Greenpeace, por exemplo, usa marketing político radical assim como o Exército Zapatista de Libertação Nacional mexicano o usa. O marketing político radical inclui não apenas o uso criativo e persuasivo dos meios de comunicação tradicionais, mas ingredientes como construção de redes sociais, adesão voluntária, militância e trabalho prolongado em áreas de atuação mapeadas previamente, tendo como ponto de partida uma base material limitadora: a falta de dinheiro e pouco espaço na mídia tradicional.
Em uma eleição, o que diferencia o marketing político tradicional do marketing político radical?Cavalcante - O marketing político tradicional mede como estão as pesquisas e se adapta a ela, achando que a população pode engolir tudo. Isso pode funcionar por um tempo mas vai resultar em perda de densidade de imagem. Para o marketing político radical a coerência é um valor e índices de intenção de voto só servem quando acompanhados de adesões consistentes, que se reproduzam em escala. Para os radicais o sucesso é medido a partir da arregimentação de adeptos ativos. Por isso o planejamento é a parte mais importante de uma campanha radical.
Qual a regra de ouro do marketing político radical?
Cavalcante – A política deve dominar a função do marketing e não o oposto.
Comentários
Arregimentação de adeptos ativos pode ser traduzida nas táticas de difusão das idéias de Trotsky, e na visão da hegemonia de Gramsci; muito mais eficaz é produzir ações e táticas para movimentos sociais, assim sim podemos acreditar na eficácia de tais capturas discursivas.
Carlito Gaya
Vocês falaram tanto que resolvi comprar o livro. Não foi fácil achar, não; mas encontrei onde se encontram coisas alternativas: Ná Figueredo da Estaçao. Pensei se tratar de um pequeno ensaio, mas é um volume com mais de 300 páginas, denso e repleto de leituras diferentes das que meus professores fazem quando lidam com a temática do marketing político. Estou no capítulo "Marketing e Midiatizaçao da Política". Concordo com a professora Marise em uma coisa: o autor está dizendo o que sempre disse (quem leu "Comunicaçao Militante" sabe disso) e é fortemente marcado pela matriz marxista e Chico Cavalcante em nenhum momento escamoteia esse viés. Mas estou gostando. A contextualização é nova e está enriquecida por exemplos, citações e referências, além de ter um vocabulário de termos usados e uma boa grade bibliográfica. Sem este blog e sem a polêmica aqui parida eu não teria chegado ao livro que vai, com certeza, me ajudar a finalizar meu projeto de mestrado.
Um abraço,
Daniele Dantas