Pular para o conteúdo principal

O fim da era Gilmar Mendes, dantesca e impressionante

Cezar Peluso assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal. Chegou ao fim a era Gilmar Mendes, o período mais estranho da história do STF. Estranho porque, na longa história de relações corporativas e classistas no controle do Estado, inclusive - ou sobretudo - nas esferas do poder judiciário, jamais se havia visto tanta proximidade e interferência entre o poder público e os interesses privados. 
O jornalista Leandro Fortes resumiu bem a era Gilmar Mendes no STF, em artigo publicado no blog Brasília Eu Vi. Sua síntese é perfeita: 
“No fim das contas, a função primordial do ministro Gilmar Mendes à frente do Supremo Tribunal Federal foi a de produzir noticiário e manchetes para a falange conservadora que tomou conta de grande parte dos veículos de comunicação do Brasil”.
Concordo integralmente. A gestão de Mendes pode ser comparada como a chegada ao poder de um deslumbrado. Desejando, provavelmente, tornar-se arauto de uma direita brasileira pós-neo-liberal e ainda sem líderes. Deu festas e ofereceu coquetéis, trocou favores com a imprensa, concedeu entrevistas bombásticas no Youtube...
Não obstante, apesar desses esforços, o que conseguiu foi, apenas, tornar-se o mico da sorte das elites nacionais. Permaneceu tirando bilhetinhos do retestrelo e fazendo a alegria dessa direita, muito golpista e um tanto dantesca. Bilhetinhos inconsistentes, factóides, sustinhos e santinhos de ocasião.
Os dois habeas corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas, foram o grande ato de sua gestão. A opera prima de uma justiça de auditório, de uma justiça de tarde de domingo, pela qual e pólo quê lamentamos imensamente. Sua gestão pode ser sintetizada como um esforço de politização do Supremo, algo inacreditável e, possivelmente, um exemplo de anti-republicanismo que entrará nos livros de história do futuro. 
Uma sucessão de fatos, além do episódio referido, o comprovam: o alinhamento e a defesa sistemática dos interesses da bancada latifundiária no Congresso; a defesa dos torturadores do regime militar; a posição pública contra a revisão da Lei da Anistia; a petulância arrogante de chamar o Presidente “às falas”; a “farsa do grampo”, publicada pela revista Veja, que justificou a derrubada do delegado Paulo Lacerda do comando da PF e a conseqüente interrupção do trabalho sistemático e sério de combate à corrupção que Lacerda vinha fazendo. 
Porfim, é preciso registrar o esforço patético de tentar vincular, ao próprio nome, as ações de organização e moralização do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), embora o mérito seja do corregedor Gilson Dipp.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”