1. Um estojo de ferramentas: a história que passava e passa, o lapidário, reza e meia, lembranças à meia-voz, uma estrutura meio-cogniscente, milhares de setas.
2. As coisas existem é para ferro. Ferro armado, montado, entortado. Entretanto, as coisas têm uma lentidão de nuvem. Mas esquentam com o sol. E o gavião que passa lhes faz sombra de passarinho.
3. As catraias que rangem movimentam um passado feminino. É um inventário: um sortilégio de flores, um galho de baunilha, um avião à jato propulsor, uma avalanche de música, dois sapatos para dançar.
4. Como defender Belém, em seu urbanismo fofo, em suas torrinhas de metal que refletem o chão, em sua ferrugem, cambraia, lentidão e mofo? Como explicar um urbanismo inevitável, que um dia foi alucinado e hoje é uma soma de cataclismos e audições, choques de ruas do passado com ruas do presente? E a casa floreal, como justificá-la, em seu ecletismo indefensável?
5. Ah, contemplar com o ócio... e reciclar o passado. E já o bonde se moveu. Segue lento, desbravando o ar quente de maio. Tu, Observador, és um homem que articulas teus olhos na direção do vento, e que articulas teu corpo inferior sobre paredes. A argila, o cristal, e um folheto sobre a exposição universal. Uma armação metálica pesa sobre ti. Um gasogênio vermelho. Inspiras ozônio vermelho. És um homem com eletricidade.
6. Há três rãs no teu caminho. Elas cruzam a rua fazendo triângulos. Havia uma jazz-band a acompanhá-las. Mas o tempo, ah o tempo, ele não fazia milagres.
7. As mangueiras dariam à cidade uma beleza desordenada. Ergueriam a cidade ao quinto andar, e depois ao oitavo e ao décimo. Te falaram de uma vida desarvorada. E querias esquematizar um tempo que deflui. Vais ombrear em inglês. Talvez serás um cavalheiro.
Continua amanhã.
Para entender melhor.
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