Pular para o conteúdo principal

A confraria do Mururé

Como disse, é às terças reúno-me com alguns bons amigos para um café da manhã e uma conversa sobre política. É um grupo que agrega nomes ilustres, dentre cientistas politicos e ex-ocupantes de cargos públicos. Chamamo-lo «Grupo do Mururé». Não que haja uma pretensão regionalista nele, considerando que essa vegetação, tão típica dos nossos rios, já nomeou, antes, o lugar comum do apreço local. A sugestão do nome partiu de um dos nossos colegas, que identifica o mururé como uma plantinha que vai daqui àli, ouvindo, escutando, trocando historias, sempre navegando, sempre fazendo juízo, sempre se informando. 

Dia desses contaram-nos que a planta já nomeou outra confraria, que se reunia às vésperas de começar o governo Fernando Guilhon, nos anos 70, para falar de politica. Dessa vez o nome vinha do lugar onde aconteciam as reuniões: o edifício Mururé, em Belém. Conta-se que uma parte do governo Guilhon foi formada lá e que nessas reuniões muito se decidiu sobre os projetos desse governo. Não é uma referência ingrata: Fernando Guilhon foi um homem honrado e fez um governo responsável e honesto.


O grupo do Mururé tem, a cada semana, um convidado: alguém bem posicionado para observar a vida politica do Pará, um deputado, um gestor publico, um militante político enfronhado, um capitalista de expressão… Não há, em nossa escolha, cores partidárias, pois nosso ponto de partida é o bem público. Praticamos o esporte do diálogo, sempre respeitoso e tolerante. Partilhamos críticas comuns a certos gestores e algumas expectativas ideológicas, mas sem o compromisso de uma politica que seja feita como projeto de poder – e, sim, apenas, como projeto de sociedade.
Temos tido, em nossas reuniões, convidados interessantes. A eles indagamos, sempre, as mesmas questões:  as razões do fracasso eleitoral da governadora Ana Júlia; os bastidores do seu governo e do governo que inicia; as dinâmicas dominantes da economia e da política paraense; a conjuntura para as próximas eleições. Questões básicas. São as que alimentam a própria política…

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...

UFPA: A estranha convocação do Conselho Universitário em dia de paralização

A Reitoria da UFPA marcou para hoje, dia de paralização nacional de servidores da educação superior, uma reunião do Consun – o Conselho Universitário, seu orgão decisório mais imporante – para discutir a questão fundamental do processo sucessório na Reitoria da instituição. Desde cedo os portões estavam fechados e só se podia entrar no campus a pé. Todas as aulas haviam sido suspensas. Além disso, passamos três dias sem água no campus do Guamá, com banheiros impestados e sem alimentação no restaurante universitário. Considerando a grave situação de violência experimentada (ainda maior, evidentemente, quando a universidade está vazia), expressão, dentre outros fatos, por três dias de arrastões consecutivos no terminal de ônibus do campus – ontem a noite com disparos de arma de fogo – e, ainda, numa situação caótica de higiene, desde que o contrato com a empresa privada que fazia a limpeza da instituição foi revisto, essa conjuntura portões fechados / falta de água / segurança , por s...