O acaso do consolo tem o cinismo de Descartes naquelas cartas que ele escreveu a Elizabeth da Boêmia. Bem o sei. Maria Sylvia e outras pessoas muito próximas precisarão e merecerão o consolo do afeto, mas a lição do meu consolo, se nele há alguma, pode até servir para os leitores de Benedito e para as comuns pessoas, sem acaso e nem um pingo, nem mesmo um pingo, do cinismo cartesiano.
É que se trata do consolo – para continuarmos cartesianos – de ethica ordine. Quando falo sobre a morte de alguém que foi grande e que, particularmente, foi grande na filosofia da existência, o que me vem à mente é que a morte materializa a ruptura com toda a angústia de sermos-aí, cruelmente lançados ao mundo, sem resposta dele e de nada.
É que a morte nos libera da humilhante angústia que nos acompanha durante toda a vida e que é a angústia de nem saber para que estamos aqui, se é que se pode sabê-lo, se é, até mesmo, que se está…
Essa forma de consolação poderá alimentar a alguns e mais aos meus cães, se eu for competente no esforço que moverei até comove-los para depois consolá-los. E quem sabe mais…
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