Tive muitos professores, e posso dizer, sem nenhuma dúvida, que Benedito Nunes foi o mais importante deles. Mais importante para mim, para a minha relação privada e pessoal com a estranheza do mundo. Ele corrigiu, no tempo hábil, meu existencialismo imaturo e reles – “Sartreano, sartreano!” ele acusou-o, uma vez, há uns 15 anos atrás, do fundo da sua poltrona, na Torre.
Seu julgamento a respeito de Sarte era severíssimo. A ponto de considerar que a principal utilidade do ilustre filósofo era a de demonstrar, com seu próprio exemplo, os erros a que se pode chegar pela via metafísica do existencialismo – ou seja, quando a analítica existencial se deixa levar pelos enganos daquilo que a péssima tradução brasileira de Ser e Tempo denomina “pre-sença”.
Aliás, essa tradução parecia ser a pedra no sapato do velho mestre – uma opinião compartilhada por muitos mas ignorada por mim, infeliz de não saber alemão e que alcancei o Heidegger do céu de Benedito, depois de muito amargar tantas críticas à edição da Vozes, pela via de uma reprografia rôta em francês que, ainda por cima, continha o que me parece ainda ser um punhado de hieróglifos cabais feitos pelo primeiro proprietário do livro a que se fez copiar, recopiar e, mais uma vez, recopiar.
Meu Heidegger era quase transparente – no sentido não heideggeriano do termo. Quase um inexistente.
E não me protejeu da pecha sartreana.
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