Retornei há pouco da Igreja de Santo Alexandre, onde está sendo velado o corpo do professor Benedito. A Belém chuvosa desta tarde e desta noite não o prossegue, mas, também, não o oblitera. De tudo ficamos menos ricos. Belém principalmente, porque perde um dos últimos representantes de uma geração internacionalista, cosmopolita e erudita, antípoda dos tempos mais presentes. Quem morreu foi o filósofo da cidade, e não é qualquer uma que pode tê-los; tê-los, sobretudo, do quilate dele.
Sabemos que precisamos seguir vivendo, ainda que mais lançados ao mundo do que antes. Quem leu sua obra sabe que a experiência da perda, da morte, não se opõe à experiência filosófica, e nem mesmo à experiência poética. Pessoalmente, suponho que a morte tem o benefício de corrigir o excesso de abstração da vida - e isso aprendi com ele -, mas... quem de fato sabe? Benedito Nunes deve saber, agora. Agora que é mais que um ser-aí, padecente do existenciário de ser-para-a-morte.
A morte, pelo menos, nos libera do insustentável desejo de trascendência. Talvez, o que é bem provável, não nos garanta a imanência pura, mas deve ser um bom começo para uma vida, digamos, elementar.
Todas a honras ao professor Benedito.
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Abs.
Danilo