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A desimportância do PSD

Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, publicado originalmente no Correio Braziliense de 23/03/2011:

A desimportância do PSD

Marcos Coimbra

Chega a ser impressionante a falta de perspectiva de alguns jornais quando discutem as movimentações do prefeito Gilberto Kassab. Quem os lê fica com a sensação de que elas são relevantes. Só que não têm a menor importância.

Desde o início do ano, Kassab estava anunciando que sairia do DEM, que pretendia deixar o partido pelo qual conseguira os mandatos de deputado federal, vice-prefeito e prefeito de São Paulo. Não por acaso, depois que havia ficado patente que a maioria de seus correligionários abandonava o serrismo e mostrava preferência por Aécio.

Sua primeira intenção foi migrar para o PMDB, coisa que fazia sentido, pois, no estado, o partido estava de portas abertas, à disposição de quem chegasse para ocupá-lo. Com a morte de Quércia e a posse de Michel Temer na vice-presidência da República, ficara acéfalo e parecia uma presa fácil.

Por dois motivos, essa opção teve que ser abandonada. De um lado, requeria o endosso da direção nacional peemedebista, o que se revelou complicado. De outro, implicava alto risco de perda do cargo, pela interpretação da Justiça Eleitoral a respeito da titularidade dos mandatos. Para ela, quem sai de um partido sem uma boa razão não leva o mandato que recebeu por seu intermédio. Kassab podia se mudar para onde lhe aprouvesse, mas teria que abrir mão da prefeitura.

Havia, no entanto, uma maneira de circundar esses obstáculos. Bastava criar um novo partido e a mágica estava feita. Como os tribunais entendem que sair de um partido para fundar outro livra o eleito da perda do mandato, o caminho era esse. Que tinha, além disso, a vantagem de não exigir a aprovação de ninguém.

Por mais vantajosa que fosse, essa alternativa ainda apresentava problemas. Partido novo é partido sem cadeira conquistada no pleito anterior, donde sem acesso à propaganda eleitoral gratuita e aos recursos do fundo partidário. Sem ambos, incapaz de disputar competitivamente as eleições.

Como, para cada dificuldade, costuma haver um remédio, inventaram uma solução. O partido novo seria de mentira, feito somente para driblar a legislação. Antes de 2014, o novo/falso partido se fundiria a algum existente. Seria apenas uma baldeação de Kassab e dos companheiros de aventura que amealhasse, enquanto não arribassem a um partido de verdade.

Durante alguns dias, vimos Kassab à procura de um nome para sua legenda. Que foi PDB e passou a ser PSD (o que deve ter feito com que muita gente ilustre, da estirpe de Juscelino e Tancredo, se revirasse na tumba). É uma escolha tão importante quanto a da cor da gravata que ele vai usar amanhã.

Contam-se nos dedos os políticos que têm relevância pessoal e liderança para fazer o que o prefeito resolveu fazer. E ele não é um deles.

Atualmente, talvez só existam dois, um em cada campo de nossa política. Lula, caso saísse do PT, ou Aécio, caso se retirasse do PSDB, fariam diferença, cada um à sua maneira e em sua escala. Deixariam lacunas imensas nos seus partidos de origem, levando consigo gente expressiva, em número e qualidade. Mudariam o jogo político e eleitoral. Obrigariam, por exemplo, a que novos cálculos para 2014 tivessem que ser feitos.

E Kassab? A única coisa certa é que sua saída é ruim para o DEM, que vai mal das pernas e sofre mais um revés. Mas sua entrada em um novo partido e sua posterior ida para outro não querem dizer (quase) nada.

Como mostram todas as pesquisas, ele tem, hoje, uma imagem apenas sofrível na cidade que administra. Não exerce liderança política, moral ou intelectual nas oposições. Pior, não tem votos. Seu projeto de governar São Paulo esbarra em Alckmin, mais querido que qualquer antecessor e forte candidato a permanecer no Palácio dos Bandeirantes na próxima eleição.

Mas é provável que nada disso tenha importância e que Kassab esteja apenas dando suporte aos planos de Serra, de tê-lo em algum lugar em que possa (talvez) ser útil no futuro. Com o aecismo em alta no DEM, pouco a fazer na sua sucessão e sem espaço na eleição de governador, ele não tem mesmo o que perder.

Arregimentar uma tropa de políticos de menor expressão e ver no que vai dar é melhor que ficar vendo o tempo passar.

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