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Os mapuche são uma etnia absolutamente híbrida, que surge em meados do século XVIII, como produto de um processo de etnogênse, ou seja, de elaboração identitária, que se dá como abertura em relação ao outro, a partir de intensas trocas comerciais e alianças militares. O historiador Sérgio Villalobos (1985) interpretou-os como sendo uma sociedade multiétnica, composta por linhas de parentesco litigantes que acordou politicamente sua unidade a partir do encontro com a sociedade colonizadora espanhola. Fusão cultural e hibridação interétnica estão na raiz desse processo, que foi-se ampliando e consolidando através dos séculos.
Esse exemplo evoca uma situação na qual aquilo a que se chama identidade, longe de ser uma forma nuclear da cultura, é um processo de construção social e de escolhas de significação. A identidade mapuche foi e continua sendo produzida sem que fosse um, digamos assim, produto de uma experiência cultural exclusivamente mapuche. Produto significa resultado, conseqüência, a precedência de um sobre outro – e, assim, uma relação de contingencialidade. A relação que se observa é, na verdade, de contigüidade, de imanência, e não de contingência. Uma, se não várias elaborações da identidade mapuche foram produzidas, contiguamente, ao longo de seu processo cultural. E, em paralelo, outras tantas foram caladas, justamente pelo fato de que, nessa dinâmica de contigüidade, todo o processo cultural, como disse, consiste numa batalha pela significação.
Dentre as inúmeras possibilidades discursivas de validação da identidade, a escolhida não foi exatamente uma, dentre as demais, algo já pronto e acabado, mas sim um trajeto, uma sucessão de sentidos que foi se formando contiguamente à experiência cultural, ao mesmo tempo que outras tantas tiveram de ser silenciadas.
Tal como em todo processo identitário, a experiência identitária não é algo fixo no tempo e no espaço. Não é um núcleo que passa, repentinamente, a produzir cultura, mas sim algo residual, um processo dinâmico. Em síntese, a identidade é contígua à cultura; e, não, um “produto da cultura”.
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