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VI. Começo de conclusão: Por um projeto de sociedade e por projeto de futuro: reiventar o Pará na federação brasileira.
A complexidade do Pará exige um projeto de sociedade. Não, jamais, a ilusão de uma comunidade.
As três campanhas positivadoras da realidade – pró-Tapajós, pró-Carajás e Pará-grande – idealizam projetos de comunidade. Buscam uma simplificação dos problemas da cultura e dos problemas da identidade de modo a justificar interesses econômicos e políticos específicos. Remetem a corporificações sociais coesas e harmônicas, o que, evidentemente, não é o caso da realidade paraense. Idealizam coerências culturais e identitárias – ou então incoerências culturais e identitárias, o que dá no mesmo – que só fazem sentido quando sua medida reporta um espaço-tempo ideal – e que, portanto, perdem o sentido quando reportam a um espaço-tempo real.
Num certo sentido nietzcheano, esses discursos conformam niilismos (diria Deleuze, niilismos reativos): negações da realidade tal como ela é em nome de futuros hipotéticos, idealizados, que pretendem substituir os impasses da imperfeição do real que é, efetivamente, sem os apreços condicionais desses mundos idealizados.
A oportunidade de debater a “divisão” do Pará incide, na verdade, na oportunidade de abrir um debate muito mais profundo do que as palavras de ordem que, lamentavelmente, conformam as campanhas de opinião política em curso, subproduto de um modelo político que reduz uma questão de imensa importâncias social e econômica a respostas tão simples quanto patéticas que são um Sim e um Não.
Poderíamos repensar, por exemplo, o papel do Pará na própria federação brasileira. Por exemplo, poderíamos discutir mais à fundo o que significa falar em cultura, ou em identidade, para além desses modelos simplificadores que reduzem a complexidade e a dimensão conflitiva inerente aos processos culturais e identitários.
Como disse, a complexidade do Pará exige um projeto de sociedade. Um projeto que presentifique suas grandes questões e que desconstrua os mitos e a ilusões de que é uma, ou várias, comunidades. Precisamos de um projeto corajoso de sociedade, que pense o Pará para períodos largos de tempo, para cinqüenta e para cem anos, que desenhe as possíveis condicionantes, os eventuais fatores limitadores, que preveja os obstáculos e crie soluções. Precisamos de um projeto que, corajosamente, perceba o Pará como um múltiplo de si mesmo.
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