Continuação do texto
Uma constante nos discursos “pró” – sejam os discursos favoráveis à divisão, sejam os discursos mais conservadores favoráveis à união – é a noção de comunidade. Pretendem, esses discursos, uma percepção de identidade baseada na compreensão que sua coerência, ou sua dinâmica interna, corresponde a uma forma de vinculo comunitário. A representação dos estados propostos, ou do Pará grande, como uma família, como uma cultura, ou como uma unidade marcada pela coerência do processo social, histórico e cultural derivam desse núcleo central que está no percebê-lo enquanto comunidade.
Ora, na prática isso não existe. O Pará não é uma família, uma cultura, uma identidade ou uma única história, por mais que se deseje. Eu, por exemplo, desejaria que isso fosse verdade. Mas não é. É necessário ser realista, porque de nossa capacidade em sermos realistas haverá uma possibilidade, futura, de construirmos um projeto de sociedade. O vínculo existente entre os paraenses não é, efetivamente, de natureza comunal. Sua realidade é complexa. Deriva de um processo histórico marcado pela disputa hierárquica, pela violência simbólica, pelo massacre cultural e identitário de populações autóctones, pela escravidão, por uma dinâmica de exclusão social das mais violentas das havidas na experiência colonial portuguesa ou brasileira.
Dessa realidade não decorre o fato de que o futuro se torne inviável para os paraenses. Muito pelo contrario: o que assinalo é que é inviável continuar denegando, dissimulando, os processos simbólicos hierárquicos que conformam as representações sociais em curso e que, à sua maneira, resultam, ou justificam, as próprias reivindicações separatistas. É inviável pautar o futuro pela noção de comunidade. E sabê-lo leva, necessariamente, à percepção de que é necessário construir, de fato, a sociedade paraense.
Continua
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