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Comentando as eleições 15: O cenário paraense: As condições da hegemonia tucana e as condições da oposição

É preciso reconhecer que o resultado destas eleições, mesmo faltando a decisão de Belém, favorece o PSDB e o Governo Jatene. Afinal, o partido do governador aumentou em 18 o número de prefeituras sob seu controle direto, inclusive Ananindeua e Santarém, segundo e terceiro colégios eleitorais do estado – passando a ter 31 prefeituras e governando uma população de cerca 1,77 milhões de habitantes. 

Ao mesmo tempo, o PSDB conseguiu conter o ímpeto de crescimento do PMDB, que perdeu 10 prefeituras, inclusive Ananindeua – ficando com 28. Cabe lembrar que, nas eleições de 2008, durante o governo do PT, o PMDB estadual cresceu bem mais que nestas eleições. 

Na sua aliança com o Governo Jatene, o PMDB diminuiu. Sua vitória em Castanhal, 5o colégio eleitoral do estado, não recompensa nem parte da derrota em Ananindeua, 2o colégio. O frágil resultado de Priante na disputa de Belém, é apenas outra parte do corolário - e do sintoma. O PMDB perde força, ao mesmo tempo como situação e como eventual oposição. Ainda conserva seu poder de atuar como pêndulo político no quadro eleitoral do Pará, mas levou um baile do “aliado”. 

E o PT? Reconhecer que os resultados do processo eleitoral de 2012 favorecem o Governo Jatene não significa dizer que o PT deixou de ser uma força estadual de peso. Afinal o partido pode ter perdido Santarém e Parauapebas (3o e 6o colégios eleitorais paraenses), mas mantém 23 prefeituras no estado, tendo perdido apenas quatro municípios. Dessa maneira, o PT permanece como a principal força de oposição do Governo, governando cerca de 885 mil paraenses. 

Resta saber como, precisamente, esse poder opositor será exercido. 

O partido ganhou duas cidades importantes no jogo político, Cametá e Bragança. Cametá é um reduto petista importante, que sabe fazer barulho. Bragança não, mas ganhou um prefeito que – vocês ainda não conhecem o Padre Nelson? – sabe, sozinho, fazer muito barulho. É curioso perceber que essas duas cidades, ambas históricas e de grande dinâmica microrregional, possuem, simultaneamente, movimentos sociais fortes e forças conservadoras igualmente fortes. Outra curiosidade é que são os dois municípios de maior penetração política do ex-deputado federal Gerson Peres e de sua família, lideranças retrógradas que ainda possuem importância local e que pode vir a constituir-se como parte da estratégia do PSDB para penetrar nesses atuais bastiões petistas. 

Porém, o maior zumbido que será feito ao Governo Jatene tende a vir de Marabá, onde foi eleito o deputado estadual João Salame, do PPS. Partido aliado a Jatene, ok, mas não em Marabá, onde a candidatura de Salame foi sustentado por uma coligação com o PT, que indicou seu vice, Luis Carlos Pies, marido da deputada estadual Bernadete ten Caten e ex-secretário adjunto de planejamento do governo de Ana Júlia. 

Por lá, Salame despontou como o principal nome da política local, na batalha pelo estado de Carajás. Mas não apenas. Não apenas Carajás por Carajás. Sua bandeira maior é o desenvolvimento do sul e sudeste do Pará. Sua bandeira é da Alpa, a integração regional, a proteção dos rebanhos locais contra a aftosa... Bandeiras do PT, bandeiras de Ana Júlia. Tudo que o Governo Jatene tem sido contra ou tem permanecido calado. 

Não fosse a inoperância do PSDB no caso da desistência, pela Vale, de construir a Alpa, o destino destas eleições em Marabá teria sido outro. E tudo isso credencia João Salame e Marabá, quarto colégio eleitoral do estado, a ocuparem uma situação proeminente no jogo político dos próximos anos. 

E Santarém? Alguns dirão que o vencedor, Alexandre Von, também saiu da batalha pela criação do Tapajós. Mas não é bem assim. Por lá, Alexandre Von é associado a Jatene, seu companheiro de partido e, apesar de ser um dos lideres do SIM, sua pecha é de apoiar o grande agente do NÃO, o governador Jatene. É uma contradição sobre a qual Von jamais deu explicações, constrangendo seu eleitorado. 

Sua atitude nunca foi clara, como a de Salame. Trata-se de um vassalo da ambigüidade. 

É claro que numa circunstância normal, um líder político trataria de se posicionar ao lado da vontade absoluta do eleitorado. Porém, as tentações que tentam Von, partidárias para dizer o mínimo, são tão grandes... Alexandre Von tem pouca versatilidade verbal, raciocínio lento. Deixa-se levar, invariavelmente, pela tentação do poder. 

Será um prefeito ambíguo. Pobre Santarém. Perdeu a chance de eleger uma excelente candidata, a Professora Lucineide. 

Realmente uma pena. Lucineide tem virtudes que andam raras: inteligência, compromisso, honestidade e, Deus do Céu... uma força descomunal para o trabalho. Se o digo é porque, mesmo a distância, acompanhei atentamente a sua lida, de muitos anos, na educação de Santarém. Eis aí uma pessoa que renova o PT paraense... 

Não se conhece a professora Lucineide em Belém e em outras regiões do nosso Estado, mas lhes garanto que é uma pessoa muito especial. Tive oportunidade de conversar com ela no começo da campanha e percebi o quanto estava sendo difícil se desembaraçar das dificuldades iniciais e o quanto, mesmo assim, tendia a construir um projeto que nunca era individual, mas, sempre, coletivo.

As dificuldades maiores do PT, ao que parece, se dão da pouca força legislativa que terá, no conjunto do estado, nos próximos quatro anos. Afinal, o numero de vereadores em Belém foi reduzido para três. 3 de 35. 1, em Ananindeua, de 25 vereadores. 2, em Santarém, de 25. 1, em Marabá, de 21. 

Antes que me critiquem pela análise quero lembrar que política de esquerda não se faz com discurso autoelogiativo e muito menos com dissimulações discursivas ou com ambiguidades. Se faz com critica, autocrítica e reflexão. Com leitura da realidade. Com construção de objetividade.

Cabe ao PT, a João Salame e à professora Lucineide, mesmo derrotada, um papel de oposição que se faz necessário, para contestar a situação tucana. Em qualquer ocasião, a oposição tem um papel essencial, que é impedir a concentração do poder. Tudo ainda depende da decisão de Belém, é claro, pois a eleição de Edmilson garante uma polarização do poder essencial para a democracia e para a sociedade paraense, mas é preciso lembrar que uma eventual eleição de Zenaldo Coutinho pesaria como uma garra tucana sobre todo o estado...

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