O sumiço do vôo da Malasya Airlines tem
ativado as imaginações. Numa sociedade midiatizada e globalizada, as hipóteses
reproduzem os temas comuns que são recorrentes nas narrativas jornalísticas,
ficcionais e na cultura trivial da vida quotidiana. O sequestro do vôo por
terroristas e por óvnis, um conflito de “dimensões” superpostas no
espaço-tempo, desintegrações “trans-gravitacionais” e uma incrível
materialização de “Lost”, o seriado, na telerrealidade têm sido temas evocados,
em simultâneo, por gente séria e por gente, digamos “maluca”.
Bom, podemos botar mais lenha na fogueira: E
se um dos pilotos (ou os dois) tivessem sucumbido à síndrome de Amok?
Trata-se de uma síndrome cultural, uma doença
psiquiátrica, que já apaixonou cientistas e escritores – por exemplo, Stefan
Zweig, que se baseou nela para escrever “Amok. O louco da Malásia”.
Essa doença foi estudada por Georges
Duvereaux, o fundador da ethnopsiquiatria e está presente no imaginário
cultural da região, da Indochina às ilhas do Pacífico, passando pela Indonésia,
Malásia, Filipinas etc. O termo designa uma repentina fúria assassina, que
acomete um indivíduo que se julga humilhado e que reage a esse sentimento
“incorporando” o espírito de um guerreiro vingador e matando o maior número de
pessoas ao redor e em seguida cometendo o suicídio. Ela faz referencia a Amok,
personagem de um conto tradicional da região, um guerreiro humilhado que
reproduziu esse comportamento. É uma patologia exclusivamente masculina e muito
estudada pela ethnopsiquiatria.
Ela não é sem equivalente, é claro, nas
fúrias assassinas desses jovens americanos hiper-armados que entram nas suas
antigas escolas para se vingar dos bullings sofridos no passado. Mas não se usa
o nome de Amok para qualificar a sua infelicidade.
E quanto ao vôo, enfim, considerem essa
hipótese – e explorêmo-na na cultura midiática que fala à nossa realidade como
os espíritos enfurecidos sopram conselhos à cabeça de uns e outros no oriente.
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