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Diários de Montreal 41: Retornos

Outra vez em Montreal. Acabei indo e vindo, vindo e indo, meio sem saber diferenciar o que é estar do que é ficar. Fui em janeiro, voltei em fevereiro, retornei em março e revim outra vez antes de março acabar. O que me traz de volta é o compromisso de concluir minha pesquisa e de abrir os caminhos, ganhar novos espaços de publicação e diálogo. Compromisso. Compromissos trazem de volta. Me trazem de volta. Trazem-nos, vocês, eu, de volta. Compromissos são sempre boas desculpas para estarmos de volta.
Sozinho em Montreal e com a única tarefa de ler e escrever, estou quase habitando bibliotecas. Duas, a da UdeM e a Grande Biblioteca, em particular. Isso também é estar de volta. Retornar a um diálogo que se não é eles é mesmo comigo, com o que penso que ele disseram. E eles, no caso, bem, eles são essa gente que leio, que retorno a ler, que releio. Heidegger, Gadamer, Ricoeur, Derrida... E outros ainda, as vozes literárias que falam comigo ao mesmo tempo em que eles falam com elas.
A Marina me disse que Montreal significou, para mim, Heidegger e Proust. Duas paixões antigas nas quais pude mergulhar com muito mais intensidade.
E vocês não imaginam como as bibliotecas daqui são ricas. O que encontrei aqui não encontro nem na internet. E não à base de um ou outro texto, mas sim à base de centenas de livros, de centenas e centenas de artigos. Lendo um mínimo de seis horas por dia, durante um ano e meio, vocês não imaginam a quantidade de questões abertas e a carga afetiva que as envolve.
Questões abertas trazem de volta. Cargas afetivas trazem de volta. Bibliotecas trazem de volta.

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