Pular para o conteúdo principal

Diários de Montreal 44: Eleições

Hoje é um dia especial aqui no Quebec: dia de eleições. Eleições provinciais. Ano passado acompanhei intensamente as eleições municipais da província e aprendi enormemente. Agora chequei a poucos dias de uma nova disputa e posso dizer que, outra vez, estou aprendendo muito. Como já mencionei, o sistema político é completamente diferente do Brasil. Tanto pela forma parlamentarista como pelo sistema federativo.
Estão em disputa quatro candidaturas principais:
- O Parti Quebecois, da atual primeira-ministra, Pauline Maurois. Partido de centro-esquerda, social-democrata, nacionalista do Quebec, soberanista, historicamente procura construir a independância do Quebec.
- O Parti Libéral du Québec, do bufão da vez, Philippe Couillard. O partido é de centro-direita, liberalista radical, federalista, nacionalista canadense e contra a independência do Quebec.
- A Coalition Avenir Québec, de François Legault. Partido de centro-direita, namora o liberalismo, identitarista, prega a radicalização do federalismo e cogita a independância do Quebec.
- O Québec Solidaire, de Françoisa David. Partido de extrema esquerda, socialista, anti-capitalista. E favorável à soberania do Quebec e comprometido com as causas da alter-mundializacão, da ecologia e da dignidade humana em geral.
O processo eleitoral foi deflagrado no dia 5 de março passado. Ritualmente, o lieutenant do Governador Geral, a pedido da primeira-ministra Pauline Maurois, dissolveu as Assembleia e convocou eleições. A intensão da 1a-ministra era ampliar sua vantagem na Assembleia. Desde setembro de 2012 ela governa com um governo minoritário. Acreditando na oportunidade do momento, dissolveu a Assembleia e convocou novas eleições apenas 18 meses após o início do seu governo.
É preciso entender que o PQ governava sem maioria na Assembleia, o que torna incrivelmente difícil a concretização do seu programa. A Assembleia Nacional do Quebec possui 125 cadeiras. Para formar um governo majoritário são necessárias 63 cadeiras.
Em geral, a população sabe que um governo minoritário significa dificuldades e eventuais crises políticas, então há uma tendência de que as pessoas votem de maneira a possibilitar a formação de um governo majoritário.
Durante toda a história do Quebec houve apenas três governos minoritários: um em 1878 e os dois outros na última década, em 2007 e em 2012. Dois governos minoritários tão próximos indicam uma reestruturação da vida política.
Em parte porque o PQ perdeu a força histórica que tinha e se distanciou um pouco dos seus compromissos om a esquerda. Em parte porque foram revelados os milionários esquemas de corrupção dos governos liberais.
Foi acreditando poder obter a maioria das cadeiras para formar seu governo majoritário que a atual 1a ministra dissolveu a Assembleia. Mas, voilà, as coisas não foram tão fáceis. Várias pequenas mancadas do Parti Quebecois elevaram a popularidade do canastrão liberal (todos os liberais, na minha opinião são canastrões: o liberalismo é, essencialmente, uma canastrice, e a postura política do candidato, aqui, o comprova) a uma condição dominante.
O PQ caiu, em um mês, de 36% para 27% das intenções de voto. Os liberais passaram de 34% para 39%. E, por fim, houve o crescimento da Coalition Avenir Québec, bloco de centro-direita que traz receitas de austeridade econômica para possibilitar a criação de empregos, que passou de 17% para 25% nas intenções de voto. O Québec solidaire permanece com uma margem de 7%.

A votação segue até as 20h de hoje. A cidade está andando no ritmo lento que caracteriza as eleições daqui. Os temas centrais dos debates são a geração de empregos e a questão identitária – especificamente a posição dos candidatos em relação à “Carta de Valores” proposta pelo PQ – mas também se fala muito sobre as “super-enfermeiras” (depois eu conto) e sobre o transporte público.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...

UFPA: A estranha convocação do Conselho Universitário em dia de paralização

A Reitoria da UFPA marcou para hoje, dia de paralização nacional de servidores da educação superior, uma reunião do Consun – o Conselho Universitário, seu orgão decisório mais imporante – para discutir a questão fundamental do processo sucessório na Reitoria da instituição. Desde cedo os portões estavam fechados e só se podia entrar no campus a pé. Todas as aulas haviam sido suspensas. Além disso, passamos três dias sem água no campus do Guamá, com banheiros impestados e sem alimentação no restaurante universitário. Considerando a grave situação de violência experimentada (ainda maior, evidentemente, quando a universidade está vazia), expressão, dentre outros fatos, por três dias de arrastões consecutivos no terminal de ônibus do campus – ontem a noite com disparos de arma de fogo – e, ainda, numa situação caótica de higiene, desde que o contrato com a empresa privada que fazia a limpeza da instituição foi revisto, essa conjuntura portões fechados / falta de água / segurança , por s...