Hoje é um dia especial aqui no Quebec: dia de
eleições. Eleições provinciais. Ano passado acompanhei intensamente as eleições
municipais da província e aprendi enormemente. Agora chequei a poucos dias de
uma nova disputa e posso dizer que, outra vez, estou aprendendo muito. Como já
mencionei, o sistema político é completamente diferente do Brasil. Tanto pela
forma parlamentarista como pelo sistema federativo.
Estão em disputa quatro candidaturas
principais:
- O Parti
Quebecois, da atual primeira-ministra, Pauline Maurois. Partido de
centro-esquerda, social-democrata, nacionalista do Quebec, soberanista,
historicamente procura construir a independância do Quebec.
- O Parti
Libéral du Québec, do bufão da vez, Philippe Couillard. O partido é de
centro-direita, liberalista radical, federalista, nacionalista canadense e
contra a independência do Quebec.
- A Coalition
Avenir Québec, de François Legault. Partido de centro-direita, namora o
liberalismo, identitarista, prega a radicalização do federalismo e cogita a
independância do Quebec.
- O Québec
Solidaire, de Françoisa David. Partido de extrema esquerda, socialista,
anti-capitalista. E favorável à soberania do Quebec e comprometido com as
causas da alter-mundializacão, da ecologia e da dignidade humana em geral.
O processo eleitoral foi deflagrado no dia 5
de março passado. Ritualmente, o lieutenant do Governador Geral, a pedido da
primeira-ministra Pauline Maurois, dissolveu as Assembleia e convocou eleições.
A intensão da 1a-ministra era ampliar sua vantagem na Assembleia. Desde
setembro de 2012 ela governa com um governo minoritário. Acreditando na
oportunidade do momento, dissolveu a Assembleia e convocou novas eleições
apenas 18 meses após o início do seu governo.
É preciso entender que o PQ governava sem
maioria na Assembleia, o que torna incrivelmente difícil a concretização do seu
programa. A Assembleia Nacional do Quebec possui 125 cadeiras. Para formar um
governo majoritário são necessárias 63 cadeiras.
Em geral, a população sabe que um governo
minoritário significa dificuldades e eventuais crises políticas, então há uma
tendência de que as pessoas votem de maneira a possibilitar a formação de um
governo majoritário.
Durante toda a história do Quebec houve
apenas três governos minoritários: um em 1878 e os dois outros na última
década, em 2007 e em 2012. Dois governos minoritários tão próximos indicam uma
reestruturação da vida política.
Em parte porque o PQ perdeu a força histórica
que tinha e se distanciou um pouco dos seus compromissos om a esquerda. Em
parte porque foram revelados os milionários esquemas de corrupção dos governos
liberais.
Foi acreditando poder obter a maioria das
cadeiras para formar seu governo majoritário que a atual 1a ministra dissolveu
a Assembleia. Mas, voilà, as coisas
não foram tão fáceis. Várias pequenas mancadas do Parti Quebecois elevaram a
popularidade do canastrão liberal (todos os liberais, na minha opinião são
canastrões: o liberalismo é, essencialmente, uma canastrice, e a postura
política do candidato, aqui, o comprova) a uma condição dominante.
O PQ caiu, em um mês, de 36% para 27% das
intenções de voto. Os liberais passaram de 34% para 39%. E, por fim, houve o
crescimento da Coalition Avenir Québec, bloco de centro-direita que traz
receitas de austeridade econômica para possibilitar a criação de empregos, que
passou de 17% para 25% nas intenções de voto. O Québec solidaire permanece com
uma margem de 7%.
A votação segue até as 20h de hoje. A cidade
está andando no ritmo lento que caracteriza as eleições daqui. Os temas
centrais dos debates são a geração de empregos e a questão identitária –
especificamente a posição dos candidatos em relação à “Carta de Valores”
proposta pelo PQ – mas também se fala muito sobre as “super-enfermeiras”
(depois eu conto) e sobre o transporte público.
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