Esta semana vi um excelente filme, no CineLíbero Luxardo. “Pelo Malo”, ou cabelo ruim, produção venezuelana dirigida por MarianaRondó.
O filme conta a história de um moleque de uns
sete anos de idade, vivendo num suburbio de Caracas, obcecado por alisar seu cabelo
crespo para aparecer numa foto como “cantor”. A mãe, viúva e desempregada, não
compreende o que passa na cabeça do filho e suspeita que esse desejo de alisar
o cabelo é um sinal de homossexualidade tangente.
- Eu não te amo.
- Eu também não te amo,
dizem-se os dois.
O preconceito cega. O menino tem o
preconceito da “cor”, da “raça” e se autodenega. Sua mãe tem o preconceito da
sexualidade, e, degenando o filho por causa disso, também se autodenega.
Preconceitos são cadeias de sentido. São
redes, tecidos vivos, que tendem a se disseminar e a se superpor.
Denegação é o termo que encontro para
discutir como se produzem as exclusões de si – talvez as mais delicadas e as
mais absurdas.
Tratei um pouco disso num artigo que
publiquei este mês na Revista de Antropologia da USP, observando como nós, aqui
na Amazônia, temos uma longa tradição de autodenegação.
Nós nos autodenegamos do que somos enquanto indígenas,
negros, nortistas. E isto além do tal complexo de vira-latas da comum nação
brasileira, sempre reavivado em ano de Copa do Mundo.
O ciclo do preconceito dificilmente se rompe.
Se renova, se autoproduz.
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