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Mostrando postagens de janeiro, 2015

A cidade apócrifa

Fábio Fonseca de Castro (Homenagem a Belém, no seu 399o aniversário - acreditando que só o que pode salvar a cidade é sua imaginação) Em 1438 a cidade de Belém localizava-se na Bayonne, e antes disso ela estava no Egito, na Bratislava, a algumas léguas de Jericó, num pedaço católico do rio Mississipi e também no Orinoco e em outros lugares do mundo, suscitando um mistério secular que leva inevitavelmente a Maria, a Iluminada, e ao evangelho apócrifo mais fascinante do mundo, que é o que está nos arquivos do Estado, em São Petesburgo, escrito num grego vital dos tempos de São Jerônimo. Nesse evangelho, Deus rompe o Acordo da Aliança, contraído com os judeus, e põe no mundo uma filha, a Virgem Maria, que gerará o Salvador, a nascer num lugar chamado Bethelem. A nova aliança só será estabelecida quando o Salvador nascer, e não se sabe quando será isso, e tampouco quais serão os seus fundamentos (creio que isto inválida o Decálogo). No mesmo evangelho, Jesus Cristo aparece so

Para entender o espírito do Charlie Hebdo

Irreverente, vulgar, ácido, obsceno, sarcástico... Os adjetivos que podem descrever o Charlie Hebdo seguem nessa direção. O jornal, quanto a ele, segue uma tradição secular – nos dois sentidos da palavra – vigente na França deste a revolução de 1789: a do pasquim irreverente, anti-religioso, ateu, popular. Uma tradição que, na verdade, está na base política da sociedade francesa e que se assenta sobre o princípio da critica à religião. Essa filosofia política – a do “secularismo”, ou da “laicidade” – é o princípio fundador da República Francesa e está no bê-a-bá que todas as professoras pregam às crianças desde o maternal. Meu filho fez o maternal e os primeiros anos de escola lá e acompanhei essa história na minha vida quotidiana. A laicidade, que significa a radical separação entre Estado e Religião, é, na verdade, bem mais que isso: é o próprio motor da vida política, da concepção política de nação, na França.  Há toda uma longa história cultural, que não procurarei

Sobre o atentado no Charlie Hebdo

O morticínio ocorrido no Charlie Hebdo é a notícia que abre e puxa 2015. Várias palavras se embaralham em torno: identidade, etnocentrismo, multiculturalismo, laicidade, islamofobia, liberdade de impresa, liberdade de expressão e, mais uma vez, a França é palco desse debate, transcendental na Europa, que surge no conflito entre a laicização do Ocidente e a intolerância violenta de um certo islamismo. As manifestações a respeito estão sendo as mais variadas e o debate que vai sendo feito, especializado ou laico, explora de maneira variada esse vocabulário, mas por todo o lado vamos ouvido generalizações perigosas que tendem a simplificar o atentado em torno de dicotomias generalistas que não só não explicam a violência ocorrida como também colaboram para o mascaramento das reais motivações dessa violência. Vamos ser sinceros: não dá para generalizar, o que se vê não é uma guerra entre identidades e nem, muito menos, uma guerra entre Ocidente e Oriente. Isso é bobagem. Quem