O morticínio ocorrido no Charlie Hebdo é a notícia que abre e puxa 2015. Várias palavras se embaralham em torno: identidade, etnocentrismo, multiculturalismo, laicidade, islamofobia, liberdade de impresa, liberdade de expressão e, mais uma vez, a França é palco desse debate, transcendental na Europa, que surge no conflito entre a laicização do Ocidente e a intolerância violenta de um certo islamismo.
As manifestações a respeito estão sendo as mais variadas e o debate que vai sendo feito, especializado ou laico, explora de maneira variada esse vocabulário, mas por todo o lado vamos ouvido generalizações perigosas que tendem a simplificar o atentado em torno de dicotomias generalistas que não só não explicam a violência ocorrida como também colaboram para o mascaramento das reais motivações dessa violência.
Vamos ser sinceros: não dá para generalizar, o que se vê não é uma guerra entre identidades e nem, muito menos, uma guerra entre Ocidente e Oriente. Isso é bobagem. Quem apela para essa violência é um islamismo ignorante e irracional. O qual tende a crescer quando se encontra com um "ocidentalismo" preconceituoso e etnocentrista.
É óbvio que o Charlie Hebdo, bem como qualquer jornal ou pessoa, tem direito de fazer a sátira e de recorrer à ironia. A sátira é uma forma legítima de questionar o poder, a ignorância, o sectarismo, a desonestidade e a estupidez. Qualquer religião, como qualquer estrutura de poder, é passível de receber críticas e deve saber respeitar as críticas que recebe. Não gostou? Que se defenda: que argumente, que recorra a processos civis. Mas nada justifica a violência. Muito menos o assassinato de pessoas.
Contra a violência dos dogmatismos religiosos, mas também contra o etnocentrismo é que, hoje, somos todos Charlie Hebdo. E
não por outras causas, e não por identidades, e não por religiões.
Comentários
Se considerarmos a religião como fato cultural (o que de fato é), e sendo a cultura um dos elementos que compõem a "etnia", fanatismo religioso também é etnocentrismo, não acha?
No mais, o que incomoda muitos europeus e ocidentais não é o islamismo em si (uma das muitas religiões em Estados laicos), mas o fato de que um número crescente de muçulmanos da Europa não querem se adaptar a uma sociedade laica e querem islamizar a Europa.
Comenta-se cada vez mais sobre mutilações genitais femininas feitas de modo clandestino (é claro), extermínio de cães (pois, segundo algumas interpretações, o profeta Maomé não gostava deles) e outros crimes, além de gente que se recusa a obedecer as leis dos países em que vivem, pois dizem que apenas a "sharia" deve ser obedecida pelos muçulmanos.
Esse comportamento só alimenta o ódio do outro lado, e vice-versa.
Zé da Lamparina