Iniciou hoje a greve, por tempo indeterminado, das
universidades federais. As reivindicações são justas: reajusta linear de 27,3%,
reestruturação da carreira e reversão dos cortes de 30% no orçamento da edução.
Eu mesmo a acompanho, pois compreendo que faço parte de uma
categoria – os professores das universidades públicas – que, legitimamente, em
assembleia, decidiu pela greve.
No entanto, não tenho como deixar de expressar minha opinião
sobre essa greve: sou contra e penso que ela serve para atender à agenda da
direita e da esquerda-útil, essa esquerda que, sem visão de conjuntura, se
deixa levar por um pauta que, embora justa, constitui um instrumental
despolitizado que favorece o golpismo e a crise institucional que, a termo,
tende a reverter todas as conquistas que o ensino superior público alcançou
durante os governos Lula e Dilma.
Acredito que esta greve está a serviço de um movimento
oportunista de oposição ao Governo Federal e que, no contexto político que o
país atravessa, acaba por favorecer a agenda golpista. Em última análise, à
agenda dos tucanos, dos juízes do STF partidarizados e dessa parte podre do
PMDB que, no controle da Câmara Federal, mercantiliza a política e avilta a
democracia.
Esta greve é a greve da esquerda menor: da esquerda que se
rebaixa ao quotidiano e sem visão histórica. A greve dos que fecham os ouvidos
e os olhos. É a greve do oportunismo... de uns poucos. E da inocência... de
muitos.
Aderir à greve é repetir a pauta da agenda golpista. No fundo,
da agenda que, no seu esquecimento útil, perde de vistas o caos que foi, para o
ensino superior público, o governo neoliberal do PSDB. Eu vivenciei esse
período e me lembro. Não me custa lembrar. Era preciso que morressem, ou se
aposentassem, três professores, para que se abrisse um concurso público. Não
havia nenhum dinheiro para pesquisa. Nenhum. E não havia nenhuma possibilidade
de expansão do ensino.
Olhem, eu tenho todas as razões do mundo para me decepcionar
com a agenda política e econômica do Governo Federal: creio que o ajuste fiscal
em curso é um retrocesso. Penso que o governo Dilma traiu o pensamento petista
referente às políticas de cultura, comunicação e educação. Me sinto aviltado
diante do abandono de projetos construídos e pactuados com a sociedade civil.
No entanto, apesar de todas as circunstâncias, tenho convicção
de que retroceder, nas conquistas realizadas, significa rifar a universidade
pública e, também, a democracia brasileira.
Lastimo profundamente que minha categoria aceite fazer esse
jogo. Mas infelizmente constato, ao mesmo tempo, que ela está, apenas, sendo
coerente com o absurdo despolitizado que sociedade brasileira experimenta neste
momento.
Por tudo isso, me recuso a fazer uma “greve de ocupação”. Faço
minha greve, dentro da greve. Os motivos dessa greve são menores. A ignorância
impera. A pequenez absurdiza...
Mas... quem sabe, concretizada a agenda golpista que esta
greve favorece, possamos, um dia, na força dessas palavras despolitizadas que a
permitiram, nos reencontrarmos... reivindicando democracia... e investimentos
em educação superior.
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