Se o golpe ganha, o governo Temer terá que pagar suas dívidas.
Primeiramente, sua dívida com os pelo menos 340 deputados golpistas, que vão
exigir, a ele, impunidade, cargos, emendas e agendas as mais conservadoras. Em
seguida, sua dívida com a Rede Globo e as outras mídias golpistas: muitos
milhões de reais repassados por meio de contratos de publicidades e outros
contratos.
Depois, sua dívida com a Fiesp e com o empresariado golpista, que
patrocinou a aventura e daí em diante… bom, depois é que virá o pagamento das
grandes dívidas, a entrega do pré-sal – por meio a aprovação, à toque de caixa
e ainda na os albores do golpe, do Projeto de Lei (PLS 131/2015), do senador
José Serra, que permite às petrolíferas estrangeiras explorar o pré-sal sem
fazer parceria com a Petrobras – e de muito mais.
Esse muito mais envolve desestruturar todos os programas sociais que mudaram
o Brasil, levando à ascensão social de 40 milhões de brasileiros, ao acesso
muito, infinitamente melhor à educação e à saúde que antes havia.
E esse muito mais também envolve limpar a barra de Cunha. Vai haver
alguma jogada, algum acordo, para safar o Cunha. Não por gratidão, mas,
simplesmente, porque ele continua sendo a peça-chave para fazer funcionar a
máquina parlamentar safada que deu o golpe. O Congresso pressionará para isso,
porque Cunha é a garantia, para ele, de que poderá se locupletar na esteira do
golpe.
O que teremos, portanto, será um governo Temer-Cunha. Chapa puro-sangue
do PMDB.
E qual a agenda do governo Temer-Cunha? O DIAP dá a dica com a relação
que fez dos 55 projetos de lei que já estão no Parlamento que possuem potencial
altamente destrutivo da tela de proteção social ao trabalho. Dentre eles,
correriam rapidamente os seguintes: a redução da idade mínima para o trabalho
de 16 para 14 anos (PEC 18/2011 – Câmara); a estimulação das relações
trabalhistas entre trabalhador e empregador sem participação do sindicato (PL
8294/2014 – Câmara); a flexibilização do conceito de trabalho escravo com a
supressão dos conceitos de jornada exaustiva e de trabalho degradante (PL
3842/2012 – Câmara, PL 5016/2005 – Câmara e PLS 432/2013 – Senado); o
estabelecimento da prevalência das Convenções Coletivas do Trabalho sobre as
Instruções Normativas do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (PL 7341/2014 –
Câmara); a instituição da prevalência do negociado sobre o legislado (PL
4193/2012 – Câmara); a regulamentação da terceirização sem limites (PLC 30/2015
– Senado, PLS 87/2010 – Senado); a extinção da incidência do percentual de 10%
nas despedidas sem justa causa (PLP 51/2007 – Câmara e PLS 550/2015 – Senado,
já aprovada na Comissão). Com golpe, esses projetos caminharão celeremente e
tendem a ser aprovados. Do ponto de vista do trabalhador, essa agenda de
destruição da malha constitucional de proteção ao trabalhador representará um
retorno à barbárie, um atentado aos princípios constitucionais da dignidade
humana e do valor social do trabalho.
Tão grave quanto será a agenda econômica do governo Temer-Cunha. Eles já
têm seu programa econômico, o texto Ponte para o Futuro do PMDB, documento
neoliberal que, com o velho discurso do “sem sacrifícios, não conseguiremos
avançar”, transfere toda a conta para a classe média e, sobretudo, os mais
pobres. Trata-se de radicalizar o ajuste fiscal. O pretexto da crise fiscal
será instrumentalizados para reverter as grandes conquistas sociais da
Constituição Federal e da CLT. O PMDB fala o tempo todo em duas coisas:
parcerias público-privadas e “acabar com as vinculações constitucionais”. Isso
significa, claramente, privatizar a saúde e a educação. O governo Temer-Cunha,
amplamente apoiados pelo PSDB, elegerão a retomada do processo de privatização
como saída para a crise.
No plano internacional dessa mesma agenda, viria o abandono da
diplomacia petista voltada para a inserção soberana internacional e a saída do
grupo do BRICs. Consequentemente, retornaríamos ao ciclo histórico da inserção
subalterna, tão amado pelas elites brasileiras e por sua diplomacia, tão
competente em matéria de entreguismo e de subserviência.
No plano político, o grande objetivo político da aliança PSDB-PMDB será inviabilizar
a candidatura de Lula, enquadrando-o na marra na lei da ficha limpa e, se
houver espaço, caçar o registro partidário do PT. Em síntese: soterrar o
projeto político do PT. E não é só: também entra em jogo a agenda que atende
aos objetivos econômicos dos golpistas, a começar pela restauração do
financiamento privado de campanhas eleitorais. Nesse contexto, a Lava Jato será
extinta, num flagrante ato de intervenção sobre a Polícia Federal. É o único
modo de proteger o novo centro do poder. Seu motivo real nunca foi apurar a
corrupção, apenas instrumentalizar o golpe.
Começaria a caça aos movimentos sociais, à pretexto de “convulsão da
ordem social”. A detenção de lideranças e o uso de instrumentos militares para
proibir reuniões e manifestações públicas e mais.
O governo vai procurar conter e desarticular os movimentos sociais e a
direita hidrófoba, sentindo-se amparada e protegida, vai se sentir estimulada
(e de fato o será), a agredir petistas e seus defensores nas ruas. A
perseguição tende a ser implacável. O próprio judiciário irá incentivar essas
perseguições, fechando os olhos para os abusos que serão cometidos.
Porém, desde o primeiro momento depois do golpe os movimentos sociais
não ficarão calados e também vão começar a ajustar as suas contas.
Não, de modo algum, construindo uma “pactuação nacional”.
Isso não acontecerá porque, de um lado, a direita hidrófoba,
principalmente, mas também a classe média imbecilizada pela mídia, vai iniciar
o seu grande ajuste de contas. Seu ajuste de contas com aquilo que a insulta:
13 anos de conquistas e de inclusões sociais.
E, de outro lado, porque o Brasil que desejava a democracia - mesmo o
Brasil que não vota no PT e nem apoia o governo Dilma - vai se rebelar: com a
injustiça de um golpe dado por um parlamento corrupto e sem base jurídica
consistente.
Com a provavelmente acintosa festa geral que os corruptos que deram o
golpe vão promover e com a radicalização dos movimentos sociais, é bem possível
que setores do poder público, inclusive alguns dos que apoiaram o golpe, ou dos
que se mantiveram omissos na defesa da democracia, passem a apoiar os
movimentos sociais: parte do Ministério Público, parte do Poder Judiciário e
uma parcela imensa dos militares.
O conflito tomará as ruas. Começará onde os movimentos sociais mais
organizados possuem base logística e isso inclui territórios urbanos.
O executivo, ainda amparado por um Congresso corrupto e por um
judiciário partidarizado dará a resposta mais óbvia: a flexibilização da
constituição e do direito.
Capturado por esses marginais - Temer e Cunha (agora livre de todos os
processos que o envolvem), bem como os 340 corruptos que deram o golpe, o
empresariado inconsequente e a mídia conservadora - o Estado brasileiro estará
diminuído e desrespeitado internacionalmente.
Para resistir aos protestos crescentes da sociedade, precisará dar
provas de força. Esse apoio não virá dos militares, mas, provavelmente, de
outros marginais: do crime organizado, das milícias e de setores quase
independentes das Polícias Militar e Civil.
Como sempre ocorre, marginal atrai marginal.
A economia sairá do controle do Estado: a crise de credibilidade e os
conflitos, ainda pontuais (mesmo que graves), afastarão os investimento
externos, cairão as exportações, e o desemprego se torna exponencial. Com tudo
isso, terá início um processo inflacionário incontrolável.
A classe média hidrófoba, incapaz de compreender o que ocorre, cinda
colocará toda a culpa na esquerda e nos movimentos sociais e, com ímpetos cada
vez mais fascistas, seguirá apoiando os golpistas e justificando a
criminalidade organizada.
Aqui vai se iniciar a guerra civil. E aí sim é que começa o caos. Mas
deixo isso para vossa imaginação.
Porém, sempre é bom lembrar, o golpe ainda não ganhou. E que mesmo que
os golpistas vençam na Câmara, amanhã, eles ainda têm que ganhar, depois, em duas
votações no Senado e, talvez, em uma no STF.
Fábio Fonseca de Castro
Comentários
Um parte da sociedade pode não engolir mais o PT mas também não tolera entregar o pais para esses crápulas , que de nacionalistas não tem nada .