Pular para o conteúdo principal

Da crise ao conluio

Com uma rapidez extraordinária passamos da manchete “crise entre os poderes” para a manchete “conluio entre os poderes”. Simples assim: Renan tira do regime de urgência o projeto de abuso de autoridade e é mantido na presidência do Senado, podendo tocar a PEC 55 e as demais pautas daquilo que, para mim, só tem um nome: “agenda americana”. Essa desfaçatez constitui uma das maiores negociatas da história do Brasil e encerra uma das grandes questões do imaginário político nacional: no final, todos lucupletaram-se.
Não dá nem para qualificar o estado das coisas no Brasil. Às vezes acho que só me resta acreditar nas virtudes do exemplo da má experiência. O único fato que realmente me tranquiliza é o de que a ambição dessa corja de juízes, políticos e empresas de comunicação anda tão descompensada que, porfim, pode ser torna evidente, para quem ainda não compreender, o seu caráter e a sua aliança. Mas… será que a multidão inebriada e letárgica (sim, é contraditória a união dessas palavras, mas o que, no Brasil, não é contradição?) vai, finalmente, compreendê-lo?
Há duas coisas a compreender:
1) A ausência de moral e de dignidade do STF (a mesma ausência, no Senado, é coisa velha) constitui um desses fatos maiores que precisam ser publicizados por todo mundo que quer defender a democracia no Brasil. Muita gente já sabia que a justiça brasileira não vale grande coisa, mas o que aconteceu é a prova cabal e incontestável da aberta corrupção do STF - e daí, para baixo. Salvar a democracia exige desmascarar a desfaçatez do STF, do Ministério Público e dos juizados das primeiras instâncias.
2) Essa ausência de moral e de dignidade é apenas o procedimento para o que todos eles querem, no fundo: entregar o Pré-Sal às petroleiras estrangeiras, aprovar a  PEC-55-241, para achatar o gasto social e ampliar a transferência de recursos do Estado aos banqueiros, desmontar a Previdência, que arrasará o INSS e abrirá caminho para os sistemas de aposentadorias privadas, administrados pelos bancos. É preciso botar todos eles, Juízes, empresas de comunicação, PSDB, PMBD e até essa parte do PT que é conivente com tudo isso, no lugar em que realmente estão: juntos. Junto na agenda do "Partido Americano".

Não sei se a multidão inebriada e letárgica vai, finalmente, compreendê-lo, mas esse é o rumo das coisas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...

UFPA: A estranha convocação do Conselho Universitário em dia de paralização

A Reitoria da UFPA marcou para hoje, dia de paralização nacional de servidores da educação superior, uma reunião do Consun – o Conselho Universitário, seu orgão decisório mais imporante – para discutir a questão fundamental do processo sucessório na Reitoria da instituição. Desde cedo os portões estavam fechados e só se podia entrar no campus a pé. Todas as aulas haviam sido suspensas. Além disso, passamos três dias sem água no campus do Guamá, com banheiros impestados e sem alimentação no restaurante universitário. Considerando a grave situação de violência experimentada (ainda maior, evidentemente, quando a universidade está vazia), expressão, dentre outros fatos, por três dias de arrastões consecutivos no terminal de ônibus do campus – ontem a noite com disparos de arma de fogo – e, ainda, numa situação caótica de higiene, desde que o contrato com a empresa privada que fazia a limpeza da instituição foi revisto, essa conjuntura portões fechados / falta de água / segurança , por s...