Ver Lula sendo liberado da sua prisão injusta e desonesta me
fez perceber que, de alguma forma, todos nós também estávamos, ao menos um
pouco, presos junto com ele. E que, junto com Lula, também fomos, ao menos um pouco,
libertados.
Por isso, senti imensa alegria em ir ontem a noite ao
mercado de São Brás e estar junto, por algumas horas, com pessoas muito
queridas. Pessoas que, aliás, ficaram mais queridas de repente – na partilha
dessa sensação de liberdade. Colegas, amigos antigos, companheiros de política,
alunos e ex-alunos e mesmo desconhecidos. Estar junto é uma condição da
política, necessária nos momentos de luta e permitida e desejada nos momentos
de alivívio, superação e vitória.
Porém, é preciso lembrar que Lula, de fato, ainda não está
Livre. Ele foi solto. Mas ainda não está realmente Livre. E todos nós,
igualmente, estamos soltos, mas não, ainda, Livres.
É certo que há pessoas, instituições e fatos ainda menos
Livres do que nós. As pessoas presas pela ignorância política e pelo ódio de
outras pessoas e as instituições e fatos dominados por essas pessoas
ignorantes. Não que tenhamos pretensão de libertar pessoas de suas consciências,
mas é preciso lutar para libertar as instituições das consciências dessas
pessoas.
A condição de estar Livre demanda uma agenda política nova e
corajosa. A meu ver essa agenda estaria baseada nos seguintes pontos:
1. Lutar para que o STF declare a suspeição de Moro no
julgamento de Lula e anule as suas condenações. O conjunto das evidências para
isso é imenso e há forte chance de que termos essa conquista, afinal o STF,
para além da recuperação da Constituição no caso da condenação em segunda
instância já declarou: 1) a condução coercitiva de Lula foi ilegal; 2) o vazamento
das conversas com a Dilma foi ilegal; 3) o impedimento de que Lula tomasse
posse como ministro foi manipulado.
2. Tomar a liderança no debate político. Com a soltura de
Lula – sobretudo se completada com a suspeição de Sérgio Moro – saímos de uma
posição defensiva e temos uma chance de voltar a pautar o debate político.
3. Recuperar uma posição à esquerda, corrigindo os erros do
PT, ampliando a autocrítica já iniciada (lamento pelos que desprezam essa
pauta, mas ela é condicional para que a sociedade entenda que devemos retornar
à uma posição de esquerda mais aguerrida), sanando os males do burocratismo partidário
e, sobretudo, construindo uma frente popular com os demais partidos de
esquerda.
4. Pautar o debate político com vistas ao futuro. Deixar em
segundo plano, no contexto, presente, a nossa herança de grandes conquistas e
apresentar projetos e soluções para o Brasil que virá, inclusive sobre como
desfazer os retrocessos bolsonaristas e temeristas e recuperar nosso legado
virtuoso. É preciso construir uma narrativa que mire o futuro, e não o passado.
5. Combater com muita determinação o bolsonarismo, fazendo-o
em pelo menos três frentes: 1) Bloqueando a agenda política mais absurda e
destrutiva do governo, notadamente no campo das questões ambientais, educacionais
e em relação às condições trabalhistas e sindicais; 2) Criando condições para
que a CPI da Lava Jato, bem como outras CPIs sejam acompanhadas e compreendidas
pela sociedade; 3) Combatendo a enxurrada de mentiras dos bolsonaristas e
denunciando essa sua forma de fazer política com mais efetividade.
6. Construir uma posição mais estratégica no Congresso,
formando um bloco parlamentar que capture o “centro” por meio da antes
mencionada agenda de futuro. Dessa maneira, combater o governo e, ao mesmo
tempo, desconstruir a hegemonia das atuais mesas diretoras da Câmara e do
Senado.
7. Retomar e renovar a luta sindical, ampliando a
visibilidade e a influência do enfrentamento político.
A soltura de Lula nos dá um novo e importante fôlego, mas é
apenas a primeira grande conquista para a liberdades que queremos.
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