Não sou da área da saúde e nem gestor público, mas me parece que a UFPA, instituição onde trabalho, comete um erro em determinar, por hora, “manter as atividades acadêmicas regulares”. Pressupõe-se que isso deva ser feito enquanto não surgirem casos da doença COVID-19 na instituição. Isso foi estabelecido pelo Grupo de Trabalho sobre o novo coronavírus, justamente estabelecido.
Bom, acompanhei atentamente o debate ocorrido na Itália nas últimas semanas, inclusive desde o surgimento da contaminação nesse país e pude ver que a estratégia local era a de manter a vida normal até que o país ingressasse no estágio da contaminação comunitária, com isolamentos pontuais dos focos contaminados. Na televisão e nos jornais, os especialistas locais sugeriam o contrário: que os governos e instituições se antecipassem, reduzindo drasticamente a circulação de pessoas. O resultado é o que vimos, o descontrole da contaminação.
Compreendendo que a UFPA é uma comunidade com mais de 60 mil pessoas, penso que a única medida ponderável seria a de suspender as atividades neste momento, porque o potencial de disseminação do vírus, nessa comunidade e dela para toda a sociedade paraense, é gigantesco.
Compreendo – embora não concorde – que haja instituições que necessitem atender ao imperativo do mercado, mas não compreendo que haja instituições – públicas, de ensino superior e que façam pesquisa – que precisem atender aos imperativos da burocracia.
É excelente que tenhamos um GT sobre a situação, mas é preciso que esse GT sintonize melhor com a situação e com o debate que vem sendo feito mundo afora.
Mesmo no Brasil, há diversas IES que já suspenderam as atividades, inclusive em estados/cidades nos quais não se confirmou a contaminação.
Dizer que uma turma com 30 alunos não constitui um risco de disseminação da contaminação, como me disseram há pouco, é esquecer que esses 30 alunos estarão, antes, ou em seguida, no RU, o restaurante universitário, com outros 2 mil alunos que, por sua vez, estarão, em seguida, com seus familiares, nos mais diversos bairros de Belém e/ou municípios do estado.
O indicativo de “manter as atividades acadêmicas regulares” me parece um equívoco. Lamento dizê-lo. Os tempos são incertos e muito depende da nossa capacidade de ponderação.
Fabio Fonseca de Castro
Professor da UFPA
Professor da UFPA
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