O principal signo de que alguém é ignorante, burro, idiota e imbecil é o binarismo. A prática de reduzir o mundo a equações do tipo “ou... ou...” constitui a quintessência do sofismo e, ao mesmo tempo, da asnice pura. Essas coisas do tipo branco ou preto, doente ou saudável, nacional ou estrangeiro, mulher ou homem, dentro ou fora, falso ou verdadeiro, ciência ou ficção e até mesmo esquerda ou direita nunca deram conta de expressar a riqueza, a diversidade e a complexidade da vida social.
Por que estou dizendo isso? Só para dizer que o bolsonarismo é, fundamentalmente, binarista.
Essa conversa que tende a opor saúde pública a economia é ridícula e não deixa de ser impressionante como tem gente ainda cai nesse papinho. De jornalistas a economistas, de gente “séria” a gente “doida”. O fato é que o bolsonarismo produz falsos dilemas. Para fazê-lo, quando na falta de um polo opositor, inventa inimigos quiméricos: do marxismo ocidental ao deus-mercado.
Politizar binariamente essa epidemia serve apenas para manter mobilizada a horda bolsonarista, que só é capaz de raciocinar, minimamente, através de polarizações.
O vírus expõe perfeitamente as contradições do bolsonarismo. Para combatê-lo é preciso ciência e solidariedade, duas coisas que o ferem de morte. A ciência, porque nega o antiintelectualismo e o terraplanismo dessa horda. A solidariedade, porque nega seu princípio de exclusão, sua necropolítica e a necessidade de agir coletivamente para vencê-lo.
Ciência e solidariedade são duas coisas que não se acomodam ao binarismo.
Expulsar Bolsonaro é lutar pela vida, pela inteligência e pelo direito à solidariedade.
#ForaBolsonaro
Fábio Fonseca de Castro, professor da UFPA.
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