O PT em dia de decisão: apoiar o PSOL ou o Podemos? A hora da identidade, da pertinência, da duração e do compromisso.
O PT decide, hoje, com quem comporá chapa para a prefeitura de Belém: sendo o vice de Edmilson Rodrigues, ex-prefeito petista de Belém, hoje no PSOL, ou sendo o vice de Úrsula Vidal, que passou por inúmeros partidos e que hoje integra o Podemos, um partido cuja função política é a de hostilizar e incentivar o ódio ao PT.
Apesar de tudo - tanto do óbvio como das evidências - o partido está dividido e o debate tem sido intenso. Suponho que a militância não tenha dúvidas, embora os delegados e alguns dirigentes do PT, à custa de prelibações individualistas, construirem seus argumentos. Por isso gostaria de contribuir com esse debate, muito breve e objetivamente.
A primeira coisa que quero dizer é que, com todo respeito pelas pessoas que são Edmilson e Úrsula – e conheço e admiro a ambos, a nível pessoal – não se trata de escolher pessoas, mas de escolher entre perspectivas estratégicas para o PT. Trata-se de afirmar e, sobretudo – dado o contexto da campanha de ódio ao PT – confirmar identidade política num projeto que não é imediato e que precisa responder a uma compreensão de longo prazo: a construção da justiça social, da democracia e do socialismo no Brasil.
Quando falo em perspectivas estratégicas refiro um conjunto muito preciso de elementos políticos: identidade, pertinência, duração e compromisso. É à luz desses elementos que, a meu ver, a escolha deve ser feita.
Qual dos projetos afirma a qual deles trai a identidade política do PT ? Uma parceira com a esquerda (o PSOL) ou um reforço da tese de que o PT deve se articular com o centro e com a direita (o Podemos)?
Qual dos projetos é pertinente, em relação às perdas – catastróficas – que desgastaram a alma e a identidade do PT com sua burocratização, experimentada em seus governos: a aliança com a conjuntura imediata, com sua arriscada ambivalência (o Podemos) ou a afirmação dos fundamentos do partido à esquerda (o PSOL)?
Qual dos projetos garante a duração das políticas públicas e o compromisso identitário mais profundo do PT: a aliança com o Podemos e com uma identidade política centrada nas classes médias e baixas conservadoras e anti-progressistas ou a aliança com o PSOL e, sobretudo, a a identidade petista do seu candidato?
Qual dos projetos teria aderência real do partido, da militância do PT: a adesão a uma candidatura híbrida, mediatizada, e politicamente vaga ou a adesão a uma candidatura que parte da experiência e da identidade política mais profunda?
Acredito que, tudo considerado, a massa eleitoral petista votará em Edmilson, independentemente da decisão do partido.
Sinto muito para alguns. Há belos discursos por aí, mas é essa a simples e evidente verdade : o PT votará, nesta eleição como nas anteriores, no candidato do PSOL!
Tem uma coisa que os experts em política ainda não perceberam: a massa eleitoral belemense de esquerda tende a não fazer movimento táticos, mas estratégicos. Os compromissos cabanos são longos, ainda que imprecisos, e é por isso que nas últimas eleições os candidatos do PT foram, sistematicamente, preteridos pelos candidatos PSOL. Trata-se de uma questão de identidade política.
Úrsula Vidal resta uma excelente candidata, pelo que vem construindo em sua recente aprendizagem – mas, sobretudo, em relação ao que temos aí como projeto da direta. Não obstante, a aliança com o Podemos, um partido que hostiliza sistematicamente o PT, jamais – e esse jamais será repetido à exaustão durante uma eventual campanha – terá adesão das massas petistas.
O fato básico é que, tal como nas eleições anteriores os petistas não votaram nos candidatos do PT por preferirem Edmilson Rodrigues – que, para eles, representa identidade política, pertinência, duração e compromisso – nas próximas eleições continuarão votando em Edmilson Rodrigues, independentemente da escolhas de suas lideranças.
Havendo um segundo turno no qual Edmilson não esteja mas que conte com a presença de Úrsula, prevalece a norma de exclusão e o voto petista, em sua maioria, recairá em Úrsula.
Simples assim. Trata-se, à termo, de coerência ou de incoerência, de identidade política ou de não-identidade política, apesar dos pré-acordos, das circunstâncias, dos discursos, dos projetos conjunturais e mesmo individuais…
Como disse, não se trata de uma escolha pessoal. Individualmente, tanto Edmilson como Úrsula possuem qualidades e defeitos. Por outro lado, individualmente, cada um de nós pode ter percepções positivas e negativas a respeito de seus projetos políticos. Ocorre que, no contexto de ataques e desgastes profundos, trata-se, para o PT, de, escolher - ou não - pela identidade, pertinência, duração e compromisso.
Fabio Fonseca de Castro, professor da UFPA
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