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Outra estátua que se vai (tarde)

Foto de Catlyn Ochs, publicada no The New York Times

Outra estátua se vai, nesse importante processo de renarração da história, iniciada quando, no começo de junho, manifestantes  derrubaram a estátua de um mercador de escravos, Edward Colston, em Bristol, UK. Desta vez é a estátua de Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos, instalada no hall de entrada do Museu de História Natural de Nova York.

Na sequência dos questionamentos e protestos iniciados com o Black Lives Matter, várias estátuas representando os heróis da história hegemônica - uma história quase exclusivamente branca e masculina - já foram derrubados. 

No caso do Museu de História Natural a decisão veio do próprio Museu, que percebeu que a estátua "descreve explicitamente negros e indígenas como seres inferiores e subjugados". A decisão recebeu apoio do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que declarou que "É a decisão certa e o momento certo para remover esta estátua problemática.

Cabe dizer que a família Roosevelt, ainda muito influente, divulgou um comunicado bem interessante a respeito da decisão: 
O mundo não precisa de estátuas, relíquias de outra época que não reflectem os valores da pessoa que pretendem honrar, nem os valores da igualdade e da justiça. A composição da estátua não reflete o legado de Theodore Roosevelt. É hora de a retirar.
Acho esse processo extremamente interessante e importante. Estamos vendo a história em movimento, e pessoas em ação. Não há sentido em fetichizar estátuas como história quando a própria história está questionando o papel dos seus sujeitos hegeômicos.

Como disse recentemente Priyamvada Gopal, professora da Universidade de Cambridge e autora do livro  Insurgent Empire: Anticolonial Resistance and British Dissent (2019),
A reinterpretação das estátuas na memória pública deve reconhecer que chegou um momento histórico em que elas foram rejeitadas.

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