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Alguns comentários sobre o 2o turno de Belém

Os resultados gerais das eleições de 2020 – e que comentei em posts anteriores – sugerem a tendência de que a onda conservadora que marcou estas eleições prossiga em direção às eleições de 2022. Por isso, mesmo, é uma tendência que tende a nortear as táticas do jogo político em todo o espectro partidário, produzindo adesões e polarizações. 

Em Belém, o notável crescimento do delegado Eguchi surpreendeu a todos e resulta de forte mobilização evangélica. 

Belém vai ter uma disputa ideologicamente polarizada entre bolsonaristas e democratas, fortemente agenciada pelo voto evangélico. Mas é preciso dizer que é de tal modo absurdo e rasteiro o programa político do delegado Eguchi, bem como as entrevistas que está concedendo, que a polarização verdadeira que está ocorrendo não é entre bolsonaristas e progressistas, mas, basicamente, entre bolsonaristas e democratas. 

Com isso quero dizer que penso que Edmilson Rodrigues tem mais chances se conseguir se projetar como democrata, mais ao gosto do voto mediano brasileiro – e menos como progressista ou esquerdista. 

Democrata é a roupa da ocasião. E é uma roupa que o próprio campo da esquerda costurou, na história brasileira. E com acessórios: defender a ponderação, a racionalidade, o equilíbrio... explorando a imponderação, o irracionalismo e o desequilíbrio que ostensivamente caracterizam o governo Bolsonaro e um (imponderável, irracional e desequilibrado) eventual governo Eguchi. 

Tira-se mais voto de Bolsonaro e de Eguchi, no contexto, com essas vestimentas – justamente porque é por meio delas que se conquista o voto conservador e desconfiado brasileiro – do que com os trajes costumeiros que vestimos no rondó progressista. 

Creio que Edmilson deva falar como prefeito de todos e, sobretudo, apresentar propostas, ações, soluções para Belém – coisa que seu adversário não tem. Talvez focar menos no passado e mais no futuro. 

Em razão das disputas no plano federal, há tendência de sinais de apoio do governo estadual, do MBD, à candidatura de Edmilson, mas o pragmatismo histórico desse partido sempre fala mais alto e pode possibilitar uma aliança que, inclusive funcione como escudo protetor do governo Helder Barbalho em relação às investidas do Governo Federal contra ele. 

A tendência de voto dos demais partidos é majoritariamente conservadora, tal como o perfil eleitoral da cidade. As candidaturas Priante, Thiago, Cássio e Vavá são conservadoras, mas possuem níveis variados de potencial de transferência de voto. No geral, sugerem uma migração maior em direção a Eguchi do que para Edmilson. Em que proporcionalidade? Acho imponderável, e isso depende da tática de captação de votos de cada candidato, mas é preciso ter em mente o perfil conservador e moralista do eleitorado de Belém. 

O potencial de voto da imensa parcela de abstenção, nulos e brancos é igualmente imponderável, mas segue a mesma tendência conservadora. Pelo que lembro das eleições passadas cabe lembrar que, em Belém, quando há forte polarização – como é o caso deste pleito – pelo menos 25% dos que votaram branco ou nulo, tendem a se posicionar em favor de um dos dois candidatos. E isso é muito, bastante para desequilibrar a eleição em favor de um dos lados. Afinal, 25% dos 45.670 nulos de ontem, somados a 25% dos 26.975 votos em branco de ontem, podem fazer toda a diferença. Votos nulos foram 5,75% e em branco 3,40%, mais 20,75% de abstenções. 

Cabe considerar a imensa quantidade de abstenção: 207.987 indivíduos. Quando se tem em mente que isso significa quase 4/5 da votação recebida pelo candidato mais votado, 247.027, tem-se um dado a considerar e a ser tratado taticamente. 

Por fim, uma palavra sobre os “votos setoriais”. 

Chamo assim para aqueles votos que dão aparência de conformarem blocos: o voto dos médicos, o voto dos policiais, o voto dos uberistas, o voto dos evangélicos, etc. 

É preciso falar em nome de categorias, sobretudo das categorias que, no imaginário desconfiado da política brasileira, são categorias que “foram contra” a esquerda, nas eleições recentes. Por isso a importância do “voto dos médicos” ou do “voto dos advogados”, por exemplo, que são associados a uma ideia de “centro” e que dão sinais, para as massas eleitorais, de onde está o parâmetro de equilíbrio das classes médias. As massas olham para as classes médias, com grande frequência, na hora de votar. O voto de um médico, de um advogado, de um economista tem esse peso de influência. 

 E importante sinal têm sido os manifestos de apoio a Edmilson Rodrigues vindos dessas categorias. Penso que isso aí deveria ser melhor mediatizado. 

Em relação ao “voto evangélico”, penso que cabe, à expressiva quantidade de evangélicos progressistas, presentes em todo o Brasil e de maneira importante em Belém, de fazer, neste momento, a sua “guerra da religião” – os evangélicos que são consequentes com os modelos de razão e de ponderação que temos na sociedade brasileira precisam se manifestar, inclusive para defender a sua religião da imagem negativa que o proselitismo e o oportunismo políticos de muitos pastores lhe está fixando. 

Fábio Fonseca de Castro, professor da UFPA

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