Vencemos! Ótimo, mas, sem tempo a perder, vamos trabalhar. O que tenho a dizer é o seguinte:
- Vai ser difícil! O governo Edmilson será a única prefeitura de capital realmente progressista no país. Estará na linha de frente, inclusive das grandes batalhas progressistas nacionais. Primeiramente, é preciso ter consciência dessa condição histórica: Edmilson e Edilson não governarão apenas Belém, mas para o Brasil e, em particular, para as esquerdas. O que fizerem, bem como seu modelo de aliança – o da frente única de esquerda – será o grande laboratório para a derrota do bolsonarismo e do início da reversão do quadro de conservadorismo que arrebatou a sociedade brasileira. Essa responsabilidade é imensa e, como Lula dizia, “não temos o direito de errar”, ou seja, é preciso articulação e perfeito controle dos processos internos. Seria mais fácil se São Paulo, Porto Alegre e Recife tivessem nos acompanhado, mas não... estamos sós. E muito depende de nós.
- A linha política de ação e de articulação do governo precisam lembrar disso que acabei de dizer: A articulação política, a linha programática e a imagem pública do governo precisam se projetar nacionalmente, cientes da responsabilidade de transcender Belém e de afirmar como modelo de política, gestão e coesão de valores políticos.
- É preciso construir interlocução local. E isso tem duas vias, opostas mas complementares:
- Com os movimentos e instituições sociais, sindicatos, grupos culturais, identitários e políticos e com a sociedade civil de uma maneira geral: presença, liderança, capacidade de articulação, habilidade na prestação de contas, visibilidade. Somente eles nos defenderão, no futuro.
- Com os campos dominantes da economia e política: presença, determinação, espírito de racionalidade, demonstração de compreensão e demonstração de superioridade ética, moral e racional. Eles, em hipótese alguma, nos defenderão no futuro, mas precisam ser instados e eventualmente coagidos (pela estrita via da reverência à legalidade) a ter vergonha de se expressar contra nós.
- Há pontos fortes a considerar:
- A excelente relação entre prefeito e vice. Edmilson Rodrigues (PSOL) e Edilson Moura (PT) se conhecem há muito tempo e têm longa história de respeito e reciprocidade. Os dois são professores e têm uma atenção especial, muito especial, pela área da cultura e pelos imaginários da história, memória social e identidades. Em Belém, essa área aglutina identidades e produz política. É um ponto a ser considerado.
- Inclua-se no cenário o fato de que o vice, professor Edilson Moura, pertence à Democracia Socialista (DS), uma tendência do PT mais próxima do PSOL e que, inclusive, perdeu um bloco de militantes históricos, há dois anos, para o grupo, justamente, de Edmilson. Esse contexto produz coesão e trânsito, certamente facilitado pela habilidade de articulação do grupo de Edilson Moura, um político particularmente capacitado para o diálogo e pela competência de compreender a alteridade.
- Também há pontos de vulnerabilidade a considerar:
- Os projetos internos litigantes... Evidentemente a aliança PSOL/PT apresenta dificuldades. Ainda mais quando a presença do PSB, adesão de última hora, se torna ostensiva e ameaça alianças fundadoras, como com o PCdoB. Fora isso, há o movimento partidário das tendências e o movimento das estratégias individualizadas/individualistas, sobretudo aquelas que sabem lidar melhor com a comunicação digital e produzir efeitos catalizadores – risco sempre presente para a gestão superior.
- No campo externo, há o maior dos inimigos: o pathos conservador de Belém. Sejamos francos: já não podemos falar de ethos no Brasil, apenas de pathos. Ethos pressupõe reflexividade, enquanto pathos pressupõe domínio das sensorialidades sobre a razão. Ou seja, domínio do emocional e do afetivo sobre o racional e o ponderável. O governo Edmilson/Edilson precisa construir uma frente ampla contra o imaginário patológico do conservadorismo belemense. Precisa fazer uma guerrilha de imaginários contra as mentalidades dogmáticas, autárquicas e inescrupulosas do campo conservador.
- Ainda sobre isso, para ficar claro: a vitória foi apertada, contra a projeção das últimas pesquisas. O que isso significa? Que as pesquisas erraram metodologicamente? Não, apenas que as pessoas têm vergonha de admitir que votam no absurdo. Só isso. É preciso lidar com o absurdo. É preciso que o governo Edmilson produza uma pedagogia da cidadania para mediar o absurdo do pathos conservador...
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