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Os 10 pecados da política cultural do PSDB

Terceiro pecado: Confusão entre cultura e turismo

A cultura possui uma relação estratégica e evidente com o turismo, mas a cultura não é só turismo. O PSDB procurou ver a cultura como um instrumento de promoção do turismo, o que é legítimo, mas, nessa operação, acabou reduzindo a complexidade e a variedade cultural à lógica imposta pelo turismo. Apresentar grandes obras como a Estação das Docas como política cultural é obscurecer grandes lacunas deixadas no campo da produção e da crítica. Apresentar obras importantes como o Museu de Arte Sacra como um projeto cuja principal função é a revitalização do turismo é perder de vistas a sua dimensão reflexiva.

A cultura valoriza o turismo e isso é muito importante, mas reduzir a função da cultura a esse objetivo equivale a se desvalorizar a si mesmo. Trata-se, com efeito, de uma espécie de prostituição cultural: a pretexto de ganhar uns tostões, se reduz a complexidade cultural paraense. Para facilitar a vida dos turistas, se reduz as contradições que, em si mesmas, constituem a cultura. Passa-se a viver uma cultura de resumos, de frases feitas, de idéias tão simples como a dos simplórios e metafísicos seres dos livros de inglês que não vão além de coisas como “My name is Bob, what’s your name?” – ao que o outro responderá, certamente, “My name is Peter and what’s his name?”. A cultura reduzida à economia do turismo vira uma relação deprimente e patética – e em inglês pobre e metafísico: Hi, this is Pará! And this... this is Pará too. E o problema é que os próprios agentes da diversidade cultural paraense passam a reproduzir essa relação simplista na sua vida cotidiana.

Comentários

Anônimo disse…
Brilhante, fatal... Parabens!
Anônimo disse…
Grande Fábio, meu professor preferido na Federal, mesmo não tendo sido pelos quatro anos que lá estive. hehehhe.

Descobri o blog no blog do Juvêncio.

Excelentes as observações. A sobre o turismo é indefensável. O arquiteto PC deveria dar uma passada por aqui. É incontestável o que foi feito. Estação, Feliz Lusitânia, Magal, agora o Centro de Convenções... mas, essa lógica dos aparelhos turísticos aguardando a manada de turista que invade a cidade principalmente no Círio deixa a maioria da população com a impressão (real, inclusive) de que tudo isso não é nosso. Pra falar só de um aspecto, sem mencionar outros.

Além de priorizar o turismo como "alavancador do desenvolvimento", a cultura do PC ignora a cidade. Tudo lindo e caro na obra recém-inaugurada. Ao redor, miséria e um punhado de pobres curiosos a saber do novo, cientes de que a jóia não é deles nem foi feita pra eles. Um reprodução infeliz da cena do colonizador e colonizado, frente a frente.

Com todos os pés atrás possíveis, aguardo as ações do próximo governo. Que bicho vai dar, saberemos só com o tempo. Estimo melhorias. Se virão, sabe deus.

Um grande abraço, Fábio.

Mais uma vez parabéns pelas considerações e pelo espaço que abres pra esse tipo de discussão.

Anderson Araújo.
hupomnemata disse…
Grande Anderson, acho que podemos resumir essa gestão cultural como uma "ação de contrastes". Tudo nela procurou se respaldar por binômios: belo e feio, rico e pobre, capital e interior - sendo que a opção feita recaiu, sempre sobre os valores julgados positivos por esse modo de percepção. O contrario disso, o desejavel, seria uma ação cultural visando a reduzir os contrastes. Como tu dizes, tudo está ao lado da miséria. Tudo se faz ao lado da miséria, tudo destaca a miséria.

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