O tema da fidelidade aos princípios evoca a lição de política que foi a derrota de Al Gore à presidência dos EUA em 2000. Gore perdeu a eleição porque abandonou suas marcas. Dizendo a mesma coisa mas vendo por outro lado: Ele perdeu porque não preservou seus princípios.
Quando era senador, pelo Tennessee, em meados dos anos 1980, Gore estava na vanguarda da política democrata e era percebido, por seus eleitores, como uma espécie de visionário. De fato, se tornou uma das vozes mais respeitadas do país. Firmou posição, ganhou capital político e, em 1988, cedeu à tentação de disputar a indicação democrata à presidência do país. Ao contrário do que imaginava, foi recebido, pelo partido e pela mídia – associada ao partido – de maneira sarcástica. O New York Times classificou sua candidatura como “esotérica”. Gore sentiu-se pessoalmente atingido. Dois de seus assessores, Jack Quinn e Bruce Reed, produziram um memorando no qual o aconselharam a abandonar o tema do meio-ambiente. E assim fez, sem perceber que abandonava, ao mesmo tempo, a sua marca, a sua identidade. O indicado dos democratas foi Mike Dukakis, que, como se sabe, perdeu o pleito para Bush pai.
Inseguro em relação a seus instintos políticos, o restante da carreira de Gore foi marcado pelo trânsito ambivalente entre seu compromisso inicial e a tentativa de construir uma imagem pública mais geral, que praticamente negava a primeira.
Em 1992 publicou o livro Earth in Balance, que rapidamente se converteu num best-seller nacional e mundial, o que mostra que seu compromisso essencial era uma marca importante, que merecia ser levada em conta.
Mas Gore não percebeu essa mensagem. Ao ser convidado a ser o vice de Bill Clinton, e mesmo durante os oito anos de seu governo, Gore manteve uma postura ambivalente, posição tanto mais difícil porque Clinton era um desenvolvimentista franco que, inclusive, ganhou as eleições por causa de sua habilidade em abordar temáticas sobre o crescimento econômico. Gore não dominou suas dúvidas. Deixou-se levar pelo superficial, pelo pragmatismo imediatista e, com isso, pelo supérfluo.
Ao se tornar o candidato democrata, em 2000, não conseguiu encontrar sua, digamos assim, persona política. Essa impressão ainda foi ressaltada pela estratégia de Bush de se apropriar de alguns temas eminentemente democratas, como o da previdência social e o da saúde pública. Gore parecia mais confuso sobre a sua identidade que os próprios eleitores. A tal ponto que mal soube o que dizer quando Ralph Nader, candidato à presidência pelo Partido Verde adotou a estratégia de desacreditar Gore como o principal ambientalista americano.
Vejam que Nader tirou 90 mil votos que seriam dados a Gore, o que foi decisivo para a derrota, independentemente de todos os outros fatores presentes na eleição da Flórida.
Por que Gore perdeu? Porque abriu mão da sua superioridade moral e ética. Porque abandonou os seus princípios.
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