Pular para o conteúdo principal

Política de comunicação 7: O que significa ter escolhido o “padrão japonês” para a TV digital brasileira?

Quando se falou sobre a chegada da TV digital ao Brasil, há dois ou três anos, abriu-se uma grande polêmica sobre que padrão adotar. Havia a opção do padrão norte-americano, do padrão europeu ou do padrão japonês. A escolha recaiu sobre este último. Obviamente houve razões político-econômicas para isso.
Aparentemente escolheu-se esse padrão em função das relações comerciais que a rede Globo mantém com Sony e a NEC. O que justifica isso é uma questão técnica com uma dimensão econômica imensa: o padrão japonês possui maior estabilidade para transmissão de sinais para aparelhos de comunicação móvel, como celulares. Com essa tecnologia, a mesma emissão feita em onda UHF alcança a televisão, o computador e o celular. Dessa maneira, a empresa que está emitindo não necessita pagar o serviço (e depender) de uma outra empresa de telecomunicação – no caso, as teles, empresa multinacionais com poder de fogo muito maior que a Globo e que todas as redes brasileiras de comunicação. Depender delas poderia significar, mais cedo ou mais tarde, abrir o mercado da produção de conteúdo para elas, e isso seria, potencialmente, a morte da Globo, da Record, da Band e do SBT.
Outro erro desse processo foi desconsiderar a produção tecnológica nacional – exceção feita para o middleware Ginga. Teria sido bem interessante alavancar a produção do país nessa área, tão estratégica, em vez de submeter-se integralmente à tecnologia japonesa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Comentário sobre o Ministério das Relações Exteriores do governo Lula

Já se sabe que o retorno de Lula à chefia do Estado brasileiro constitui um evento maior do cenário global. E não apenas porque significa a implosão da política externa criminosa, perigosa e constrangedora de Bolsonaro. Também porque significa o retorno de um player maior no mundo multilateral. O papel de Lula e de sua diplomacia são reconhecidos globalmente e, como se sabe, eles projetam o Brasil como um país central na geopolítica mundial, notadamente em torno da construção de um Estado-agente de negociação, capaz de mediar conflitos potenciais e de construir cenas de pragmatismo que interrompem escaladas geopolíticas perigosas.  Esse papel é bem reconhecido internacionalmente e é por isso que foi muito significativa a presença, na posse de Lula, de um número de representantes oficiais estrangeiros quatro vezes superior àquele havido na posse de seu antecessor.  Lembremos, por exemplo, da capa e da reportagem de 14 páginas publicados pela revista britânica The Economist , em...