Aliança do PT com o PMDB é sintoma de alheamento da realidade e dos compromissos históricos da esquerda.
Longe do Pará e sobrecarregado de trabalho e sem pretender
aprofundar no assunto, relaciono algumas observações sobre o cenário que se
forma:
1. É descabido, despropositado e politicamente inconsequente o PT
não ter candidato ao Governo do Estado. Se assujeitar a um papel secundário é
uma autocondenação política que terá consequências graves por mais de uma
década.
2. O cálculo político de uma chapa PMDB-PT é certamente
equivocado, porque o 1o turno das eleições demanda a variedade de atores para
enfraquecer o oponente. É mais fácil bater o PSDB com duas chapas do que
somente com uma.
3. O "alinhamento" ao PMDB não tem nenhuma legitimidade,
pois não é, claramente, a vontade da militância do partido; ele fere os
princípios do debate interno, da construção coletiva e da suposta democracia
partidária.
4. Esse "alinhamento", caso ocorra, significa bem mais
que uma "composição de poder": é uma alienação política maior, uma
fantasia burocrática que dissimula os interesses pessoais e paroquiais do
partido.
5. E por falar em paroquialismo, fica evidente que o PT paraense
precisa abandonar o seu paroquialismo e criar, enfim, um projeto coletivo. Esse
paroquialismo - devia dizer, esse comadrialismo - esvaziou o governo Ana Júlia
e as candidaturas de Mário Cardoso e Alfredo Costa à prefeitura de Belém.
Precisa-se de estrutura num partido, estrutura de poder interno com,
evidentemente, mecanismos de mobilidade para os agentes desse poder.
6. Além de estrutura, precisa-se de conteúdo. Tem-se conteúdo no
PT, mas disperso, fragmentado por esse mesmo paroquialismo-comadrialismo. É
preciso projetos e programas muito claros, muito bem esquematizados, para evitar
as falhas e lacunas de planejamento que se acumularam nas experiências do
partido no executivo.
7. Além de estrutura e conteúdo, precisa-se de narrativa: uma
narrativa que posicione o partido com os diferenciais que já são seus e que ele
pouco utiliza e que, também, o posicione como um partido com compromissos de
esquerda. O poder demanda narrativa. A narrativa do poder é a sua condição
política.
8. Demandar estrutura, conteúdo e narrativa significa reorganizar,
renovar, o PT do Pará. É evidente que as coisas não vão bem. A construção
política da "não-candidatura" é um sintoma evidente de alheamento,
das liderancas que o propõem, da realidade do Pará e dos compromissos
históricos da esquerda.
Comentários
Desde 2002, quando Lula beijou a mão de Jader, o PT paraense quer pagar a dívida assumida por aquele com este. Infelizmente para a direção do PT, a aconjuntura e a militancia do partido não permitiram. Para isso, João Batista esvaziou o PT, levou o partido a uma derrota histórica em 2012 na capital e se prepara para acabar com o PT em 2014.
A "inteligência política" do PT não percebe que o partido será fragorosamente derrotado com esta aliança. Um bom exemplo disso é o que aconteceu no Maranhão.
Hoje quem mais torce para que esta aliança ocorra, por incrível que possa parecer, não é Helder, mas sim Edmilson e seu PSOL. Ele tem arrebanhando a base social descontente do partido e se prepara para ser deputado federal com uma votação histórica.