O resultado das eleições aqui no Quebec
foram dramáticos para Partido Quebecois, o PQ. Sua derrota foi épica.
Começa um longo inverno para o PQ e,
consequentemente, para o ideal soberanista do Quebec. Nas eleições de ontem o
PQ foi submetido a uma derrota fragorosa pelo Partido Liberal do Quebec (PQL),
que recebeu 41,5% dos votos e fez 70 das 153 cadeiras do Parlamento e que,
assim, formará um governo majoritário com seu líder, o novo primeiro ministro
Pierre Couillard. O PQ recebeu 26% dos votos e fez 30 eleitos. Igualmente ruim
para o PQ foi a votação obtida por um outro partido, a Coalition Avenir Quebec
(CAQ), de centro-direita, tal como o PQL, que recebeu 23,34% dos votos e fez 22
cadeiras. Essa votação alentada tira um pouco o PQ da sua posição clássica de
oposição e complica ainda mais sua situação.
E não foi a única derrota do PQ. Também
simbólico foi o fato da primeira-ministra, a líder do partido, Pauline Marois,
não conseguir se reeleger na sua própria circunscrição, perdendo-a para os
liberais.
O PQ perdeu porque perdeu sua identidade.
E identidade, em política, é tudo. Tenho dito isso aqui no blog de diversas
maneiras. E o exemplo que estou acompanhando aqui é dos mais interessantes.
Durante 40 anos o partido foi definido por
meio de duas palavras: soberania e social-democracia. Soberanismo significa a
condução do Quebec à secessão do Canadá. Neste governo ele dissimulou seu
soberanismo e, quanto à social-democracia... bom, é difícil falar nisso em meio
a uma crise de empregos.
A dissimulação do soberanismo se deu de
duas maneiras: evitou falar em plebiscito pela secessão, de um lado, e, de
outro, substituiu a histórica defesa da língua francesa por um novo combate: a
defesa de um “Carta dos Valores” um projeto de lei que interditaria o uso de
símbolos religiosos em órgãos públicos. Projeto politicamente problemático,
porque interditar o uso de véus, da cruz e de outros símbolos afasta do PQ o
voto de numerosas populações de imigrantes.
Na prática, essa “Carta dos Valores” é um
projeto conservador, que tem o efeito de dizer aos imigrantes que o Quebec não
pertence a eles, e sim aos francófonos. É um projeto excludente, que fere a
alma do velho PQ, em seus fundamento socialista, democrata e favorável à
imigração.
Por tudo isso, o PQ perdeu sua identidade.
Se confrontou com suas contradições.
Os liberais souberam explorar muito bem
essa deriva identitária e conseguiram transformar estas eleições num referendum
sobre a opção soberanista. Soube construir a questão: vocês querem um novo
referendum e a possibilidade de um Quebec independente e excludente? Votem no
PQ...
O fato é que o apetite soberanista
enfraqueceu, de 1995, a data do último plebiscito sobre a independência, para
cá. A campanha liberal foi hábil em sugerir que um governo majoritário para o
PQ significaria um novo plebiscito sobre a autônoma. As novas gerações não
imaginam essa possibilidade.
O governo do PQ durou apenas 18 meses.
Antes, houve 9 anos de governos liberais, açodados por uma corrupção sistêmica
que acabou, por fim, por derrubá-los
O resto do Canada deve estar pensando,
agora, que o Quebec se resigna em ser apenas uma província. Talvez um pouco
mais folclórica, mas, de resto, apenas outra província.
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Luíza.