Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2014

Diários de Montreal 45: Política e identidade

O resultado das eleições aqui no Quebec foram dramáticos para Partido Quebecois, o PQ. Sua derrota foi épica. Começa um longo inverno para o PQ e, consequentemente, para o ideal soberanista do Quebec. Nas eleições de ontem o PQ foi submetido a uma derrota fragorosa pelo Partido Liberal do Quebec (PQL), que recebeu 41,5% dos votos e fez 70 das 153 cadeiras do Parlamento e que, assim, formará um governo majoritário com seu líder, o novo primeiro ministro Pierre Couillard. O PQ recebeu 26% dos votos e fez 30 eleitos. Igualmente ruim para o PQ foi a votação obtida por um outro partido, a Coalition Avenir Quebec (CAQ), de centro-direita, tal como o PQL, que recebeu 23,34% dos votos e fez 22 cadeiras. Essa votação alentada tira um pouco o PQ da sua posição clássica de oposição e complica ainda mais sua situação. E não foi a única derrota do PQ. Também simbólico foi o fato da primeira-ministra, a líder do partido, Pauline Marois, não conseguir se reeleger na sua própria circunscrição...

O Pará está perdido na violência, e o governo Jatene não está menos

Se o Pará está perdido nessa onda de violência - 53 mortes violentas (latrocínicios e homicídios) em apenas 5 dias, com a prisão de apenas 2 suspeitos - o Governo Jatene não está menos. Perdido politicamente. Conceder um aumento salarial de mais de 100% a oficiais da PM e dos Bombeiros e nenhum reajuste às categorias inferiores é uma mancada política que não se explica. E assistir de braços cruzados à paralizacão das corporações, recusando-se a todo diálogo parece uma insanidade. Por fim, chamar o motim iniciado de "oportunismo eleitoral" é um total contrasenso, uma bobagem que só faz piorar as coisas. Ao que tudo indica, o governo já acabou. Não consegue fazer, não consegue dialogar, não consegue dizer. Não tem argumentos, não tem leitura de fatos e não tem respostas. Vamos acompanhando esses acontecimentos perplexos. E com medo, é claro, porque a inoperância do PSDB estea transformando o Pará no caos.

Diários de Montreal 44: Eleições

Hoje é um dia especial aqui no Quebec: dia de eleições. Eleições provinciais. Ano passado acompanhei intensamente as eleições municipais da província e aprendi enormemente. Agora chequei a poucos dias de uma nova disputa e posso dizer que, outra vez, estou aprendendo muito. Como já mencionei, o sistema político é completamente diferente do Brasil. Tanto pela forma parlamentarista como pelo sistema federativo. Estão em disputa quatro candidaturas principais: - O Parti Quebecois , da atual primeira-ministra, Pauline Maurois. Partido de centro-esquerda, social-democrata, nacionalista do Quebec, soberanista, historicamente procura construir a independância do Quebec. - O Parti Libéral du Québec , do bufão da vez, Philippe Couillard. O partido é de centro-direita, liberalista radical, federalista, nacionalista canadense e contra a independência do Quebec. - A Coalition Avenir Québec , de François Legault. Partido de centro-direita, namora o liberalismo, identitarista, prega a radic...

Diários de Montreal 43: Escargotear

"Que fait-tu là?" (Que fazes aí?) "J’escargotte". (Eu escargoteio.) Escargoter é um desses novos verbos que vão surgindo, na língua francesa como em todas as línguas, da interação quotidiana. Significa “ir devagar”, “tomar seu tempo”. A menção ao escargô não demanda esclarecimento maior. Os caracóis têm sua reputação lenta – e seu alento é que o lento, em geral, permite melhor o encontro com as coisas. Cansado da longa viagem de 25 horas, havendo dormido pouco, estava ali como um escargô. Um escargô em Montreal. Concedi-me dois dias para escargoter pela cidade, cultivando o acaso, pensando nas coisas feitas e a fazer. Olhando, escutando, pisando no chão, caminhando. São meus preâmbulos aqui. Estou aqui para 45 dias de trabalho imersivo, por meio do qual me atribuo a tarefa de fechar um pós-doutorado. Seria fácil se eu tivesses melhores respostas para as perguntas que nunca parei de me fazer, mas não é o caso. Talvez que nunca seja – e “e daí?”... imagino que ...

Diários de Montreal 42: Reencontros

Vim passer, desta vez, 45 dias em Montreal. Aluguei um apartamento, mas ele só estará disponível daqui a alguns dias. Vim para um hotel. Escolhi um hotel que já conheço, um hotel familiar, com apenas 20 quartos, na Rue Saint-Denis, Quartir Latin, um dos corações da cidade. Tinha ficado nele há três anos, em 2011, quando Marina, Pedro e eu passamos uma semana aqui. Hotel central, ao lado da Grande Biblioteca, ao lado da Uqam, dos cinemas que frequento e de tudo que preciso – e com bom preço – tudo resultava conveniente. E era, mas, de fato, não esperava pelo que aconteceu. Foi no dia seguinte. Desci para tomar o café da manhã. A pequena sala do café fica no subsolo do prédio. Estava curioso para ver se ainda trabalhava por lá um senhos simpatico e falador, argeliano, amante de futebol, com quem, na outra estadia, havia conversado a cada dia que descia para o café. Pois bem. Abri a porta. Ele estava lá. Eu lhe disse: “Bonjour!” Ele me olhou, apontou o dedo para cima e resp...

Diários de Montreal 41: Retornos

Outra vez em Montreal. Acabei indo e vindo, vindo e indo, meio sem saber diferenciar o que é estar do que é ficar. Fui em janeiro, voltei em fevereiro, retornei em março e revim outra vez antes de março acabar. O que me traz de volta é o compromisso de concluir minha pesquisa e de abrir os caminhos, ganhar novos espaços de publicação e diálogo. Compromisso. Compromissos trazem de volta. Me trazem de volta. Trazem-nos, vocês, eu, de volta. Compromissos são sempre boas desculpas para estarmos de volta. Sozinho em Montreal e com a única tarefa de ler e escrever, estou quase habitando bibliotecas. Duas, a da UdeM e a Grande Biblioteca, em particular. Isso também é estar de volta. Retornar a um diálogo que se não é eles é mesmo comigo, com o que penso que ele disseram. E eles, no caso, bem, eles são essa gente que leio, que retorno a ler, que releio. Heidegger, Gadamer, Ricoeur, Derrida... E outros ainda, as vozes literárias que falam comigo ao mesmo tempo em que eles falam com elas. A...